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"O coração que se ganha é o que se dá em troca"Marcelino Freire



domingo, 21 de dezembro de 2014

Bienal do Livro do Ceará 2014 (I - O evento)


Fotos: Denis Akel 

Decididamente, não estava nos meus planos escrever sobre a Bienal do Livro esse ano. Devo dizer, ainda, que não estava também muito empolgado com o evento. O desânimo para esse, que é o maior evento local dedicado à literatura, foi completo principalmente pela dificuldade de informação por parte da própria organização, que demorou muito, mas muito mesmo, até efetivamente apresentar ao público o que de fato seria a Bienal. Uma vergonha que se viu refletida até os últimos dias da feira, com programação atrasada, poucos destaques, quase ausência de convidados internacionais e tudo muito mal divulgado. Tais fatores demonstraram toda a fragilidade que foi essa Bienal, que pareceu a todo o momento feita às pressas, sem preparo, como se só de última hora tivessem feito seu planejamento. Claro que teve seus bons momentos, mas ainda penso nela mais como uma bienal improvisada. Ao longo dessa postagem, conto desde o início como foi minha experiência com o evento, um panorama geral do que vi. 

A princípio, tudo o que se sabia era que a XI Bienal do Livro do Ceará aconteceria apenas no segundo semestre, próximo ao final do ano, em virtude de outros eventos como a Copa do Mundo e as eleições. Com o passar dos meses, porém, nenhuma informação foi divulgada. Pesquisei pelo google, e cheguei a descobrir a data, bem como o homenageado, Moreira Campos, mas nada mais além disso. Tudo a respeito da bienal era ainda bastante nebuloso.

Seguiram-se dias, meses, sem qualquer divulgação. Foi apenas no final de novembro que começaram a surgir as primeiras notas e publicações, através do Facebook e um ou outro site cultural. Por falar em site, aliás, o primeiro que recorri foi o oficial do evento, e qual não foi minha decepção, ao ver ainda em destaque a edição de 2012, quase como se esta tivesse acontecido ainda ontem. Pelo Facebook, foram então liberadas as atrações e destaques da nova edição, através de publicações chamativas. A essa altura, contudo, já faltava menos de uma semana para o início da Bienal. Procurei, agora com um crescente entusiasmo, entre essas publicações, a programação completa, mas para minha indignação, não havia nenhuma. Custei a acreditar que praticamente às vésperas da abertura não havia programação. E não somente eu; inúmeras pessoas manifestavam opiniões semelhantes nos comentários às publicações do Face. Sempre que alguém perguntava pela programação completa, a resposta era a mesma: “Divulgaremos a programação completa em breve, nome da pessoa que perguntou”. Não havia nenhuma justificativa, não importasse o que a pessoa tinha dito ou questionado. De vez em quando, ainda diziam que já tinham divulgado boa parte da programação principais nessas publicações, e de fato já era possível saber alguns palestrantes, shows e atividades, mas tudo era ainda muito vago, não sendo possível traçar uma boa meta de visitação.

Comecei então a pensar nas Bienais do Livro de outros estados, como São Paulo ou Rio de Janeiro, onde a programação começa a ser divulgada quase um ano antes, e parece haver bem mais respeito com o público, na figura de que tudo é amplamente revelado, dando tempo para que as pessoas possam se preparar, para quem planeja ir apenas a essa ou àquela palestra, para quem mora no interior ou em outros estados, enfim, age com transparência. A Bienal do Livro do Ceará definitivamente não tinha transparência, pelo contrário, tudo parecia estar meio fechado, escondido, inacessível. E então, um ou dois dias antes da abertura, eis que finalmente surge a programação completa. O site de 2012 afinal sai de cena, para dar lugar ao de 2014, este bem mais simplificado e resumido, tipicamente feito às pressas, como parece que foi tudo nesta edição. Nele, pude finalmente ver a programação completa, do primeiro ao último dia, 6 a 14 de dezembro. A distribuição de palestras, shows e atividades aconteceria se valendo de toda a excelente estrutura do Centro de Eventos do Ceará, gigantesco espaço que abrigaria mais uma vez a Bienal do Livro.

Li rapidamente a programação relativa aos primeiros dias, para ter uma breve noção do que estaria por vir. Dada a grande quantidade de atrações, palestras e mesas, pensei que seria melhor me orientar pela programação impressa, o tradicional folheto que certamente estaria à disposição do público lá no evento. Este ano, por alguns contratempos, não pude ir no primeiro dia, perdendo a cerimônia de abertura, feita pelo escritor amazonense Milton Hatoum. Felizmente, Milton ainda teria duas participações no evento.

Foi mesmo no domingo, dia 7 de dezembro, segundo dia de bienal, que pude ir ao Centro de Eventos. Como já seria a segunda edição a acontecer no novo Centro, eu já sabia bem o que esperar das instalações, com base no que vira em 2012. Dessa forma, esperava poder usufruir melhor do evento, assistir a mais palestras e seminários, além de apenas andar pelos tradicionais estandes de livros. Lembrei de levar comigo, nesse primeiro momento, uma caneta vermelha, que seria de fundamental importância. Com ela, iria, uma vez de posse da programação impressa, fazer as devidas marcações, me programar efetivamente, sublinhando tudo o que de alguma maneira me interessasse, em meio às dezenas de opções.

Chegando ao Centro de Eventos, já eram perceptíveis algumas diferenças em relação a 2012. Para começar, a entrada dessa vez seria propriamente pela frente do prédio, não mais pela lateral. Por conseguinte, o estacionamento também seria o da frente, e dessa vez parecia bem mais organizado. As cancelas, ainda inoperantes há dois anos (na época o Centro tinha sido recentemente inaugurado), agora operavam plenamente, sob uma abusiva taxa de R$15 como valor único. Havia guardas e assistentes, e não parecia haver nenhum conflito ou tumulto por conta de vagas e afins. Ver a fachada da frente do Centro com os chamativos banners e painéis da Bienal foi o incentivo que faltava para me animar para a Bienal, agora sim eu estava preparado para respirar livros e literatura.



Pelas postagens divulgadas no Facebook, já era perceptível que a identidade visual da Bienal esse ano seria bem mais limpa que há dois anos. Para a homenagem a Moreira Campos, foram escolhidas cores fortes e chamativas, bem como as letras da palavra "bienal", que tinham sido concebidas como se fossem livros, e era incrível o esmero com que aparentemente foram uma a uma recortadas. Cada letra meio que representava um livro, só esperando para ser aberto, incentivando desde já a leitura. Aparentemente simples, mas muito funcional, pensei, assim que comecei a caminhar pelo estacionamento, antes de entrar no centro.

Tão logo atravessei os limites do portão de entrada B, me vi logo invadido (e amplamente aliviado do calor, por conta dos intensos ares condicionados), pela atmosfera definitiva da Bienal. Ali, comecei pouco a pouco a pensar, que apesar dos problemas e complicações com a programação e falta de divulgação, ainda era a Bienal do Livro, ainda era um evento de literatura de porte e, como tal, merecia e deveria ser aproveitado.



Ao longo do saguão principal, que há dois anos abrigaram painéis sobre a Padaria Espiritual, vi agora uma exposição dedicada ao principal homenageado desta edição, Moreira Campos. Com o tema A Fortaleza de Moreira Campos, o contista cearense era o foco central dos holofotes. Nesta exposição, inúmeras fotos do autor, de variados momentos de sua vida, bem como breves textos bibliográficos, e até desenhos. Havia ainda imagens de seus históricos escolares, juntamente a fotos históricas e memoráveis, como a em que aparece ao lado de Rachel de Queiroz. Por estar sempre à entrada, esta exposição era um ótimo convite a conhecer um pouco mais sobre a vida do grande contista. Aproveitei, então, para sempre visitá-la, a cada entrada ou saída do centro de eventos.










Outros homenageados, dentro da programação, seriam o escritor Milton Hatoum e o poeta Antonio Girão Barroso.

Antes de adentrar ao pavilhão da feira de livros, localizei a área destinada ao cordel, ou a Praça do Cordel, que ficava ainda no saguão central. Um pequeno palco diante de alguns bancos seria a base para apresentações, palestras, shows e tudo o mais desse gênero tão popular e característico. Inúmeros cordelistas também se agrupavam nas proximidades, em extensas mesas retangulares, divulgando e vendendo seu trabalho. Além dos clássicos livretos, havia ainda xilogravuras, camisetas e afins. Como ali era uma zona de grande movimento, pela proximidade aos expositores, era impossível não dar uma esticada para conferir essa literatura tão peculiar que está sempre presente na Bienal.




Os expositores ficavam exatamente no mesmo espaço que há dois anos, e não há muita novidade a se falar deles, com relação a como eram em 2012. Tradicionalmente como banquinhas, perfiladas, uma ao lado das outras, entrecortadas por um vistoso tapete alaranjado. Havia os de sempre: Paulus, Escala, Premius, Cortez Editora, Top Livros etc. Havia ainda os luxuosos e mais investidos, como o do Senac e os que sempre chamavam mais a atenção, como Os Menores Livros do Mundo. Todos disputavam a atenção dos visitantes, que eram a todo o momento fustigados por promoções e placas e letreiros chamativos de ofertas.









Como sempre gosto de fazer nos primeiros momentos, me dediquei apenas a andar entre os estandes, reconhecendo o ambiente que não via há dois anos. Embora já fizesse uma ou outra comprinha, procurava não me deter muito em nenhum deles, ainda não. Ainda não era hora de me debruçar sobre pilhas e mais pilhas de livros de 5 ou 10 reais. O movimento, ainda bastante reduzido, favorecia uma tranquila caminhada pelos corredores. Havia ainda uma música de fundo, que a princípio pensei vir de algum expositor, e que de uma maneira ou de outra dava todo um clima de relaxamento, tornando minha experiência ali ainda mais leve e tranquila.

Após algum tempo, estranhei não ver nenhum folheto com a programação, nem com os receptivos, nem nos balcões de informações e tampouco nos expositores. Será que não havia? Para esclarecer, perguntei a uma receptiva que me olhava com solicitude. Ela disse que a programação estava toda na internet, ao que eu falei que já sabia, mas se não haveria uma versão impressa e tal, para facilitar a consulta. A mulher não soube dizer, e mostrou na sua prancheta apenas folhas de papel com a programação impressa rudemente, tal como estava no site. Perguntei ainda se não fariam mesmo o folhetinho bonitinho, ao que ela disse algo como: "Olha, eles tão dizendo aí que amanhã vai sair". Agradeci e sai, decepcionado. Acabei por voltar para casa, encerrando a Bienal para mim neste dia. A pobre caneta vermelha, que tinha levado especialmente para grifar a programação, voltaria sem sequer ter sido destampada. Mas a hora dela ainda estava por vir.


Brilhos e luzes, convite a uma noite de leituras

Após esse primeiro dia, e essa decepção, tive que pensar com cuidado como faria nos dias seguintes. Era absolutamente vergonhoso um evento desse porte não dispor da programação a tempo hábil. "Está na internet". Grande coisa. Uma programação como a da Bienal não é uma programação qualquer, há centenas de atividades, muitas até simultâneas, de modo que fica quase impossível pensar "vou ver isso, isso e isso outro" e memorizar locais e horários, uma vez que ao chegar lá não terei internet para confirmar tudo (até onde vi não há redes wi-fi abertas nas dependências do Centro de Evento, outra decepção). 

Sem opção, tive de me aprofundar mesmo na programação divulgada no site, tentando assimilar e quase decorar o que queria ver ou assistir. Foi nesse momento que percebi um detalhe curioso. Não havia, aparentemente, nenhum convidado internacional nesta edição, ninguém que justificasse o rótulo de Bienal Internacional do Livro do Ceará. Em 2012 a situação era bem diferente: houve a ilustre participação do nigeriano Wole Soyinka, Nobel de literatura (1986). Dessa vez não havia ninguém com tamanha expressão, mas será que havia alguém de fora? Pesquisei com mais avidez todas as atividades ao longo dos nove dias, e encontrei um ou outro nome, entre os palestrantes de mesas e seminários, vindos da Alemanha, Portugal e São Tomé e Príncipe. Não havia, porém, nenhum destaque às suas presenças e creio que devem ter passado quase que despercebidos, embora estrategicamente convocados para manter o rótulo Internacional

Dessa vez, diferente das últimas edições da Bienal, fiz um esforço para conseguir ir o máximo possível, assistir a tudo o que pudesse, à medida, claro, que conseguia encontrar na programação. Com o passar dos dias, ficava cada vez mais fácil me localizar entre os expositores e achar o caminho de volta aos mezaninos, para as mesas e palestras. Em um desses dias, resolvi almoçar por lá, me lembrando de que em 2012 havia um espaço inteiro dedicado às refeições, quase uma praça de alimentação, com a presença de restaurantes conceituados, como o Spettus e lanchonetes mais populares. Esse ano, procurei muito por essa área, mas sem sucesso. Tudo o que havia agora eram lanchonetes, espalhadas ao longo de um corredor, numa das extremidades do pavilhão onde estavam os expositores, ou seja, no meio dos livros. Lembrei-me então de que essa praça de alimentação ficava além das passarelas... as passarelas que cruzavam a área dos expositores, claro! Como pude me esquecer de um dos principais destaques da Bienal de 2012? De onde era possível ter uma esplêndida panorâmica do evento, bem como da magnífica estrutura do Centro? Contudo, esse ano o sonho terminaria antes de começar. De lá de baixo, nas minhas andanças pelos estandes, não vi nenhum movimento na passarela, que parecia fora de uso. Na primeira oportunidade, contornei o saguão e subi ao primeiro mezanino, constatando que de fato a passarela estava, por alguma razão, interditada, e juntamente com ela, o acesso a essa praça de alimentação que tão bem nos alimentou há dois anos. Lembrei-me logo de um curioso episódio vivido por mim, enquanto passava por essa passarela, lá em 2012. A passarela meio que oscilava, durante o caminhar, e um segurança, ao me ver fotografando, chamou minha atenção, dizendo que ali era apenas para "ida e vinda". Cheguei a questionar, replicando que não havia nenhuma sinalização disso e ainda que o local era muito propício a fotografar e era quase impossível não parar um pouco para contemplar aquela visão. Inclusive, disse ainda que se fosse assim tão sério, melhor seria mesmo ter desativado a passarela. O homem disse que levaria minhas observações aos responsáveis. Pois bem, agora em 2014, não sei se por causa disso, mas a passarela estava desativada. O segurança teria bem menos trabalho, mas ninguém teria mais aquela bela panorâmica, grande destaque da Bienal do Livro, desde que acontecia no novo Centro de Eventos. 

Sem a praça de alimentação, restaram as lachonetes, bem como pipoqueiros, churros, chocolates e até sorvetes, espalhados ao longo de um trecho da área dos expositores, no coração da feira. Por um lado, essa medida foi boa, pois deixou tudo mais unificado, a feira e as refeições, tornou a experiência mais intensa, mas por outro, favoreceu a superlotação das poucas e desconfortáveis mesas e cadeiras de plástico. Ainda, os preços dos salgados eram literalmente bastante salgados. Cinco reais era o preço constante. A variedade até boa, mas a qualidade deixava muito a desejar, e muitas vezes fiquei pensando se valeria mais a pena investir aqueles cinco reais em um livro do estande que havia logo ao lado da lanchonete.

Ainda falando no âmbito de alimentação, a Bienal este ano trouxe novamente o tradicional Café Literário, um espaço especialmente preparado para se tomar um café enquanto se acompanha, periodicamente, a palestras e lançamentos de livros, num palco adaptado lá mesmo, na área do Café. A iniciativa sempre é interessante, e esse ano acho que se mostrou melhor do que visto em 2012. Agora o Café estava bem mais reservado, a um canto, fechado por paredes envidraçadas, para melhor reter o som, e bem preparado, com um vasto carpete acinzentado e mesas de ponta. Dois murais, com os homenageados do ano, Moreira Campos e Milton Hatoum, podiam ser vistos lá dentro. Passei bons tempos por lá, enquanto começava a esboçar este texto. Em termos comparativos, essa versão do Café Literário, a meu ver, se sobressai ante a de 2012, mas ambas ainda não chegam aos pés do que foi o espetacular Café Galo de Ouro, nome dado a ele na Bienal do Livro de 2010, que na ocasião homenageou a escritora Rachel de Queiroz. 



No Café Literário, tomava-se um café na companhia de Moreira Campos e Milton Hatoum

Além dos estandes, lanchonetes e do Café, a área dos expositores contava ainda com alguns espaços de recreação, áreas livres, apenas para se sentar, sem nenhuma pretensão ou compromisso. Entre elas, havia recriações do Bosque Moreira Campos, Praça José de Alencar e até do Passeio Público. Estes locais eram uma boa opção para uma pausa estratégica, para ver melhor o que se comprou, tomar uma água ou apenas relaxar. Ocasionalmente, aconteciam pequenas atividades nesses espaços, como o Almoço com Poesia, que consistia em uma homenagem a poetas como Manoel de Barros e Mário de Andrade, feita através da declamação de poemas, além de conversas e bate-papos mais informais.








Foi somente lá pelo quarto dia de evento que finalmente saiu o bendito folheto com a programação. E acabaria sendo bem como meu irmão, Diego Akel, que me acompanhou em boa parte de tudo, falou: "Eles atrasam mas quando sair, vão distribuir tanto que logo vai ter um monte jogado no chão". Não cheguei a ver exatamente essa cena, mas de fato até o final todos os cantos estavam entupidos dele. Felicidade da minha caneta vermelha, que enfim teria sua função, e assim que tive o livreto em mãos, me pus a marcar tudo o que ainda me interessaria nos dias restantes da Bienal. 




Bom, antes de encerrar esta postagem, não posso deixar de falar um pouco mais sobre a feira de livros, os inúmeros expositores, nos quais passei boa parte do tempo, às vezes antes de uma palestra, ou depois, e até pertinho da hora de fechar. Com a experiência das Bienais anteriores, continuo percebendo que o melhor é fazer compras nos primeiros dias, quando o movimento ainda é favorável. Aquela ideia de encontrar um livro bom e pensar "ah, depois eu volto aqui e compro, tem muito tempo ainda" me levou a perder a Interpretação dos Sonhos, de Freud, que esgotou rapidamente em todos os estandes de que me lembrava de tê-lo visto. Quem sabe na próxima.

O sortimento de livros me pareceu novamente de amplo alcance, chegando facilmente aos mais variados públicos. Romances e contos seguem, como não poderia deixar de ser, em maior número. Infantis e variados também se faziam notar, chamando muitas crianças. Muitos expositores traziam também livros de áreas como direito, medicina, informática (esta bem desatualizada) etc, a preços mais acessíveis. Porém, alguns, como sempre acontece, traziam livros pelo mesmo preço das livrarias, ou até mais caros, o que era um absurdo. A meu ver, as Bienais do Livro, cujo objetivo maior seria incentivar a leitura, não deveriam aceitar essa atitude. Qual o sentindo de ir a uma Bienal para comprar um livro pelo preço de livraria? O mais incrível é que, de uma maneira ou de outra, esses livros estavam vendendo, e ninguém parecia se importar muito com as cifras...




Fiz minhas compras aos poucos, um pouquinho em cada dia, aceitando o fato de que era impossível ver tudo de uma só vez, e dando total preferência a valores realmente promocionais. Tantos livros, tantos expositores, logo não tardaria a vir aquele cansaço mental comum a essa experiência. Nessa hora, parava um pouco, tomava um café ou comia algo, para em seguida recomeçar. Então, enquanto remexia em meio aos livros, ou observava outros nesse processo, processo muitas vezes bastante mecânico, comecei a pensar o que de fato isso representava. Estar ali, em meio a dezenas, centenas, milhares de livros, procurando muitas vezes não se sabe nem o quê, mas procurando; lendo incontáveis sinopses, orelhas, contracapas; passando por livros estranhos que com certeza jamais compraríamos. É cansativo, desgastante, mas aquela é a alma do evento. Tenho vários ótimos livros aqui hoje que foram adquiridos justamente nessas condições, nas últimas edições. Na  Bienal de 2012, tentei ser o mais contido possível na escolha do que comprar. Muitas vezes o preço convidativo pode induzir a uma compra desnecessária. Garimpar é uma palavra de ordem, na Bienal e em eventos do tipo. Mas mesmo garimpando, é preciso ter freios.





É sempre valoroso ver um evento dedicado à leitura e literatura tão cheio, tão incendiado por calor humano. As noites e principalmente os últimos dias foram os mais intensos. O vai-e-vai frenético, a dificuldade de andar entre os estandes, ou mesmo no interior destes, o altíssimo barulho de vozes e gritos, tudo estava presente. Fiquei me perguntando se todos que estava comprando livros realmente iria lê-los ou era apenas para aproveitar o preço. Inconscientemente, eu também era alvo desta pergunta. Por mais que tivesse certeza de que queria determinado livro, muitas vezes era assaltado pela ideia "será que ele me será mesmo útil?". É sempre difícil fazer escolhas, embora sejam tão necessárias.





Para este ano, minha vontade foi comprar ainda menos, apenas o realmente necessário, e olhe lá. Claro que boas oportunidades e supresas sempre podem aparecer, e acabei mesmo por revirar mais uma vez livros e mais livros, atitude que, apesar de exaustiva, tem lá seu lado divertido. Priorizei biografias, antologias de contos, linguística e análise semiótica, de autores ou sobre autores que de alguma maneira li ou pretendo ler. Essa peneirada favoreceu a manter o foco no que realmente me interessava. O melhor da feira de livros da Bienal é mesmo essa liberdade de escolha. E no meio de tanta garimpagem, podemos encontrar boas pepitas de ouro.  

Um pensamento engraçado me veio certa vez, enquanto esperava o ônibus na parada, ao lado de inúmeras outras pessoas também saídas do centro de eventos, todas com sacolas cheias de livros. Fiquei pensando: "o que será que tem na sacola de livros alheia?". A ideia me fascinou de tal forma que fiquei pensando nela por horas. Seria possível saber muito da personalidade através do gosto literário... ao mesmo tempo, pensei o quão boba essa ideia poderia se tornar, em um típico telejornal, no qual um repórter sem sal faz essa pergunta aos visitantes de um evento literário, haha...

Nos dois últimos dias, a movimentação nos estandes era monstruosa, a ponto de ser difícil até para andar. O tumulto era ainda coroado pelo show de Gilberto Gil, que encerraria a Bienal com louvor. Não tinha interesse no show, nem em sua fila que cedo começou a se formar. Felizmente, nesse momento eu já estava satisfeito, com o que consegui comprar e sobretudo com o que consegui assistir, nas palestras. A Bienal do Livro 2014, apesar de todos os percalços, foi maravilhosa. Poder conhecer um pouco mais da vida e obra de Moreira Campos, as mesas com Milton Hatoum, Luiz Ruffato... enfim, assuntos para próximas postagens...

Último dia de Bienal trouxe movimentação caótica


Ufa, não estava nos meus planos escrever sobre a Bienal, mas acabei escrevendo, e muito! E logo mais, postagens sobre as mesas e palestras que pude assistir, até lá!



Foto: Diego Akel

Ah, e aproveito ainda para relembrar os posts referentes à Bienal do Livro de 2012, cuja qual me referi bastante neste texto:

Bienal do Livro do Ceará 2012 (I - O evento)
Bienal do Livro do Ceará 2012 (II - Ignácio de Loyola Brandão)
Bienal do Livro do Ceará 2012 (III - Márcia Tiburi)

E ainda sobre o tema Bienal do Livro, postagens referentes à edição de 2010, primeira que passei a acompanhar com afinco e a postar aqui:

Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (I- Introdução)
Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (II- Emir Sader/Cordel)
Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (III- Ziraldo)
Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (IV- Moacir C. Lopes)
Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (V- Pedro Bandeira)
Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (VI- Maurício de Sousa)
Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (VII- Marina Colasanti)
Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (VIII- Conclusão)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Bienal do Livro do Ceará - 2014


Imagem: Google

Está acontecendo, finalmente, a XI edição da Bienal Internacional do Livro do Ceará. Este ano, homenageando a obra do grande contista cearense Moreira Campos.

Não estava muito empolgado com a bienal esse ano, principalmente por conta da fraquíssima divulgação, mas como um evento de literatura é sempre um evento de literatura, acabei invariavelmente mexido.

Acontecerá até o próximo domingo, dia 14 de dezembro, sempre das 9h às 22h. A entrada pode até ser gratuita, mas o estacionamento custa absurdos R$15, em taxa única.

Entre os destaques, estão, além de Moreira Campos, a homenagem também ao escritor amazonense Milton Hatoum. Ainda entre as mesas e palestras, nomes como Lira Neto, Luiz Ruffato e Xico Sá.

Estou acompanhando, na medida do possível, uma vez que como não há programação impressa, fica complicado decidir – e lembrar – o que se quer assistir. Em breve, farei aqui algumas postagens referentes ao evento em si e às palestras que pude acompanhar.

Mais informações sobre a Bienal no site oficial: http://bienaldolivro.org