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"O coração que se ganha é o que se dá em troca"Marcelino Freire



domingo, 21 de dezembro de 2014

Bienal do Livro do Ceará 2014 (I - O evento)


Fotos: Denis Akel 

Decididamente, não estava nos meus planos escrever sobre a Bienal do Livro esse ano. Devo dizer, ainda, que não estava também muito empolgado com o evento. O desânimo para esse, que é o maior evento local dedicado à literatura, foi completo principalmente pela dificuldade de informação por parte da própria organização, que demorou muito, mas muito mesmo, até efetivamente apresentar ao público o que de fato seria a Bienal. Uma vergonha que se viu refletida até os últimos dias da feira, com programação atrasada, poucos destaques, quase ausência de convidados internacionais e tudo muito mal divulgado. Tais fatores demonstraram toda a fragilidade que foi essa Bienal, que pareceu a todo o momento feita às pressas, sem preparo, como se só de última hora tivessem feito seu planejamento. Claro que teve seus bons momentos, mas ainda penso nela mais como uma bienal improvisada. Ao longo dessa postagem, conto desde o início como foi minha experiência com o evento, um panorama geral do que vi. 

A princípio, tudo o que se sabia era que a XI Bienal do Livro do Ceará aconteceria apenas no segundo semestre, próximo ao final do ano, em virtude de outros eventos como a Copa do Mundo e as eleições. Com o passar dos meses, porém, nenhuma informação foi divulgada. Pesquisei pelo google, e cheguei a descobrir a data, bem como o homenageado, Moreira Campos, mas nada mais além disso. Tudo a respeito da bienal era ainda bastante nebuloso.

Seguiram-se dias, meses, sem qualquer divulgação. Foi apenas no final de novembro que começaram a surgir as primeiras notas e publicações, através do Facebook e um ou outro site cultural. Por falar em site, aliás, o primeiro que recorri foi o oficial do evento, e qual não foi minha decepção, ao ver ainda em destaque a edição de 2012, quase como se esta tivesse acontecido ainda ontem. Pelo Facebook, foram então liberadas as atrações e destaques da nova edição, através de publicações chamativas. A essa altura, contudo, já faltava menos de uma semana para o início da Bienal. Procurei, agora com um crescente entusiasmo, entre essas publicações, a programação completa, mas para minha indignação, não havia nenhuma. Custei a acreditar que praticamente às vésperas da abertura não havia programação. E não somente eu; inúmeras pessoas manifestavam opiniões semelhantes nos comentários às publicações do Face. Sempre que alguém perguntava pela programação completa, a resposta era a mesma: “Divulgaremos a programação completa em breve, nome da pessoa que perguntou”. Não havia nenhuma justificativa, não importasse o que a pessoa tinha dito ou questionado. De vez em quando, ainda diziam que já tinham divulgado boa parte da programação principais nessas publicações, e de fato já era possível saber alguns palestrantes, shows e atividades, mas tudo era ainda muito vago, não sendo possível traçar uma boa meta de visitação.

Comecei então a pensar nas Bienais do Livro de outros estados, como São Paulo ou Rio de Janeiro, onde a programação começa a ser divulgada quase um ano antes, e parece haver bem mais respeito com o público, na figura de que tudo é amplamente revelado, dando tempo para que as pessoas possam se preparar, para quem planeja ir apenas a essa ou àquela palestra, para quem mora no interior ou em outros estados, enfim, age com transparência. A Bienal do Livro do Ceará definitivamente não tinha transparência, pelo contrário, tudo parecia estar meio fechado, escondido, inacessível. E então, um ou dois dias antes da abertura, eis que finalmente surge a programação completa. O site de 2012 afinal sai de cena, para dar lugar ao de 2014, este bem mais simplificado e resumido, tipicamente feito às pressas, como parece que foi tudo nesta edição. Nele, pude finalmente ver a programação completa, do primeiro ao último dia, 6 a 14 de dezembro. A distribuição de palestras, shows e atividades aconteceria se valendo de toda a excelente estrutura do Centro de Eventos do Ceará, gigantesco espaço que abrigaria mais uma vez a Bienal do Livro.

Li rapidamente a programação relativa aos primeiros dias, para ter uma breve noção do que estaria por vir. Dada a grande quantidade de atrações, palestras e mesas, pensei que seria melhor me orientar pela programação impressa, o tradicional folheto que certamente estaria à disposição do público lá no evento. Este ano, por alguns contratempos, não pude ir no primeiro dia, perdendo a cerimônia de abertura, feita pelo escritor amazonense Milton Hatoum. Felizmente, Milton ainda teria duas participações no evento.

Foi mesmo no domingo, dia 7 de dezembro, segundo dia de bienal, que pude ir ao Centro de Eventos. Como já seria a segunda edição a acontecer no novo Centro, eu já sabia bem o que esperar das instalações, com base no que vira em 2012. Dessa forma, esperava poder usufruir melhor do evento, assistir a mais palestras e seminários, além de apenas andar pelos tradicionais estandes de livros. Lembrei de levar comigo, nesse primeiro momento, uma caneta vermelha, que seria de fundamental importância. Com ela, iria, uma vez de posse da programação impressa, fazer as devidas marcações, me programar efetivamente, sublinhando tudo o que de alguma maneira me interessasse, em meio às dezenas de opções.

Chegando ao Centro de Eventos, já eram perceptíveis algumas diferenças em relação a 2012. Para começar, a entrada dessa vez seria propriamente pela frente do prédio, não mais pela lateral. Por conseguinte, o estacionamento também seria o da frente, e dessa vez parecia bem mais organizado. As cancelas, ainda inoperantes há dois anos (na época o Centro tinha sido recentemente inaugurado), agora operavam plenamente, sob uma abusiva taxa de R$15 como valor único. Havia guardas e assistentes, e não parecia haver nenhum conflito ou tumulto por conta de vagas e afins. Ver a fachada da frente do Centro com os chamativos banners e painéis da Bienal foi o incentivo que faltava para me animar para a Bienal, agora sim eu estava preparado para respirar livros e literatura.



Pelas postagens divulgadas no Facebook, já era perceptível que a identidade visual da Bienal esse ano seria bem mais limpa que há dois anos. Para a homenagem a Moreira Campos, foram escolhidas cores fortes e chamativas, bem como as letras da palavra "bienal", que tinham sido concebidas como se fossem livros, e era incrível o esmero com que aparentemente foram uma a uma recortadas. Cada letra meio que representava um livro, só esperando para ser aberto, incentivando desde já a leitura. Aparentemente simples, mas muito funcional, pensei, assim que comecei a caminhar pelo estacionamento, antes de entrar no centro.

Tão logo atravessei os limites do portão de entrada B, me vi logo invadido (e amplamente aliviado do calor, por conta dos intensos ares condicionados), pela atmosfera definitiva da Bienal. Ali, comecei pouco a pouco a pensar, que apesar dos problemas e complicações com a programação e falta de divulgação, ainda era a Bienal do Livro, ainda era um evento de literatura de porte e, como tal, merecia e deveria ser aproveitado.



Ao longo do saguão principal, que há dois anos abrigaram painéis sobre a Padaria Espiritual, vi agora uma exposição dedicada ao principal homenageado desta edição, Moreira Campos. Com o tema A Fortaleza de Moreira Campos, o contista cearense era o foco central dos holofotes. Nesta exposição, inúmeras fotos do autor, de variados momentos de sua vida, bem como breves textos bibliográficos, e até desenhos. Havia ainda imagens de seus históricos escolares, juntamente a fotos históricas e memoráveis, como a em que aparece ao lado de Rachel de Queiroz. Por estar sempre à entrada, esta exposição era um ótimo convite a conhecer um pouco mais sobre a vida do grande contista. Aproveitei, então, para sempre visitá-la, a cada entrada ou saída do centro de eventos.










Outros homenageados, dentro da programação, seriam o escritor Milton Hatoum e o poeta Antonio Girão Barroso.

Antes de adentrar ao pavilhão da feira de livros, localizei a área destinada ao cordel, ou a Praça do Cordel, que ficava ainda no saguão central. Um pequeno palco diante de alguns bancos seria a base para apresentações, palestras, shows e tudo o mais desse gênero tão popular e característico. Inúmeros cordelistas também se agrupavam nas proximidades, em extensas mesas retangulares, divulgando e vendendo seu trabalho. Além dos clássicos livretos, havia ainda xilogravuras, camisetas e afins. Como ali era uma zona de grande movimento, pela proximidade aos expositores, era impossível não dar uma esticada para conferir essa literatura tão peculiar que está sempre presente na Bienal.




Os expositores ficavam exatamente no mesmo espaço que há dois anos, e não há muita novidade a se falar deles, com relação a como eram em 2012. Tradicionalmente como banquinhas, perfiladas, uma ao lado das outras, entrecortadas por um vistoso tapete alaranjado. Havia os de sempre: Paulus, Escala, Premius, Cortez Editora, Top Livros etc. Havia ainda os luxuosos e mais investidos, como o do Senac e os que sempre chamavam mais a atenção, como Os Menores Livros do Mundo. Todos disputavam a atenção dos visitantes, que eram a todo o momento fustigados por promoções e placas e letreiros chamativos de ofertas.









Como sempre gosto de fazer nos primeiros momentos, me dediquei apenas a andar entre os estandes, reconhecendo o ambiente que não via há dois anos. Embora já fizesse uma ou outra comprinha, procurava não me deter muito em nenhum deles, ainda não. Ainda não era hora de me debruçar sobre pilhas e mais pilhas de livros de 5 ou 10 reais. O movimento, ainda bastante reduzido, favorecia uma tranquila caminhada pelos corredores. Havia ainda uma música de fundo, que a princípio pensei vir de algum expositor, e que de uma maneira ou de outra dava todo um clima de relaxamento, tornando minha experiência ali ainda mais leve e tranquila.

Após algum tempo, estranhei não ver nenhum folheto com a programação, nem com os receptivos, nem nos balcões de informações e tampouco nos expositores. Será que não havia? Para esclarecer, perguntei a uma receptiva que me olhava com solicitude. Ela disse que a programação estava toda na internet, ao que eu falei que já sabia, mas se não haveria uma versão impressa e tal, para facilitar a consulta. A mulher não soube dizer, e mostrou na sua prancheta apenas folhas de papel com a programação impressa rudemente, tal como estava no site. Perguntei ainda se não fariam mesmo o folhetinho bonitinho, ao que ela disse algo como: "Olha, eles tão dizendo aí que amanhã vai sair". Agradeci e sai, decepcionado. Acabei por voltar para casa, encerrando a Bienal para mim neste dia. A pobre caneta vermelha, que tinha levado especialmente para grifar a programação, voltaria sem sequer ter sido destampada. Mas a hora dela ainda estava por vir.


Brilhos e luzes, convite a uma noite de leituras

Após esse primeiro dia, e essa decepção, tive que pensar com cuidado como faria nos dias seguintes. Era absolutamente vergonhoso um evento desse porte não dispor da programação a tempo hábil. "Está na internet". Grande coisa. Uma programação como a da Bienal não é uma programação qualquer, há centenas de atividades, muitas até simultâneas, de modo que fica quase impossível pensar "vou ver isso, isso e isso outro" e memorizar locais e horários, uma vez que ao chegar lá não terei internet para confirmar tudo (até onde vi não há redes wi-fi abertas nas dependências do Centro de Evento, outra decepção). 

Sem opção, tive de me aprofundar mesmo na programação divulgada no site, tentando assimilar e quase decorar o que queria ver ou assistir. Foi nesse momento que percebi um detalhe curioso. Não havia, aparentemente, nenhum convidado internacional nesta edição, ninguém que justificasse o rótulo de Bienal Internacional do Livro do Ceará. Em 2012 a situação era bem diferente: houve a ilustre participação do nigeriano Wole Soyinka, Nobel de literatura (1986). Dessa vez não havia ninguém com tamanha expressão, mas será que havia alguém de fora? Pesquisei com mais avidez todas as atividades ao longo dos nove dias, e encontrei um ou outro nome, entre os palestrantes de mesas e seminários, vindos da Alemanha, Portugal e São Tomé e Príncipe. Não havia, porém, nenhum destaque às suas presenças e creio que devem ter passado quase que despercebidos, embora estrategicamente convocados para manter o rótulo Internacional

Dessa vez, diferente das últimas edições da Bienal, fiz um esforço para conseguir ir o máximo possível, assistir a tudo o que pudesse, à medida, claro, que conseguia encontrar na programação. Com o passar dos dias, ficava cada vez mais fácil me localizar entre os expositores e achar o caminho de volta aos mezaninos, para as mesas e palestras. Em um desses dias, resolvi almoçar por lá, me lembrando de que em 2012 havia um espaço inteiro dedicado às refeições, quase uma praça de alimentação, com a presença de restaurantes conceituados, como o Spettus e lanchonetes mais populares. Esse ano, procurei muito por essa área, mas sem sucesso. Tudo o que havia agora eram lanchonetes, espalhadas ao longo de um corredor, numa das extremidades do pavilhão onde estavam os expositores, ou seja, no meio dos livros. Lembrei-me então de que essa praça de alimentação ficava além das passarelas... as passarelas que cruzavam a área dos expositores, claro! Como pude me esquecer de um dos principais destaques da Bienal de 2012? De onde era possível ter uma esplêndida panorâmica do evento, bem como da magnífica estrutura do Centro? Contudo, esse ano o sonho terminaria antes de começar. De lá de baixo, nas minhas andanças pelos estandes, não vi nenhum movimento na passarela, que parecia fora de uso. Na primeira oportunidade, contornei o saguão e subi ao primeiro mezanino, constatando que de fato a passarela estava, por alguma razão, interditada, e juntamente com ela, o acesso a essa praça de alimentação que tão bem nos alimentou há dois anos. Lembrei-me logo de um curioso episódio vivido por mim, enquanto passava por essa passarela, lá em 2012. A passarela meio que oscilava, durante o caminhar, e um segurança, ao me ver fotografando, chamou minha atenção, dizendo que ali era apenas para "ida e vinda". Cheguei a questionar, replicando que não havia nenhuma sinalização disso e ainda que o local era muito propício a fotografar e era quase impossível não parar um pouco para contemplar aquela visão. Inclusive, disse ainda que se fosse assim tão sério, melhor seria mesmo ter desativado a passarela. O homem disse que levaria minhas observações aos responsáveis. Pois bem, agora em 2014, não sei se por causa disso, mas a passarela estava desativada. O segurança teria bem menos trabalho, mas ninguém teria mais aquela bela panorâmica, grande destaque da Bienal do Livro, desde que acontecia no novo Centro de Eventos. 

Sem a praça de alimentação, restaram as lachonetes, bem como pipoqueiros, churros, chocolates e até sorvetes, espalhados ao longo de um trecho da área dos expositores, no coração da feira. Por um lado, essa medida foi boa, pois deixou tudo mais unificado, a feira e as refeições, tornou a experiência mais intensa, mas por outro, favoreceu a superlotação das poucas e desconfortáveis mesas e cadeiras de plástico. Ainda, os preços dos salgados eram literalmente bastante salgados. Cinco reais era o preço constante. A variedade até boa, mas a qualidade deixava muito a desejar, e muitas vezes fiquei pensando se valeria mais a pena investir aqueles cinco reais em um livro do estande que havia logo ao lado da lanchonete.

Ainda falando no âmbito de alimentação, a Bienal este ano trouxe novamente o tradicional Café Literário, um espaço especialmente preparado para se tomar um café enquanto se acompanha, periodicamente, a palestras e lançamentos de livros, num palco adaptado lá mesmo, na área do Café. A iniciativa sempre é interessante, e esse ano acho que se mostrou melhor do que visto em 2012. Agora o Café estava bem mais reservado, a um canto, fechado por paredes envidraçadas, para melhor reter o som, e bem preparado, com um vasto carpete acinzentado e mesas de ponta. Dois murais, com os homenageados do ano, Moreira Campos e Milton Hatoum, podiam ser vistos lá dentro. Passei bons tempos por lá, enquanto começava a esboçar este texto. Em termos comparativos, essa versão do Café Literário, a meu ver, se sobressai ante a de 2012, mas ambas ainda não chegam aos pés do que foi o espetacular Café Galo de Ouro, nome dado a ele na Bienal do Livro de 2010, que na ocasião homenageou a escritora Rachel de Queiroz. 



No Café Literário, tomava-se um café na companhia de Moreira Campos e Milton Hatoum

Além dos estandes, lanchonetes e do Café, a área dos expositores contava ainda com alguns espaços de recreação, áreas livres, apenas para se sentar, sem nenhuma pretensão ou compromisso. Entre elas, havia recriações do Bosque Moreira Campos, Praça José de Alencar e até do Passeio Público. Estes locais eram uma boa opção para uma pausa estratégica, para ver melhor o que se comprou, tomar uma água ou apenas relaxar. Ocasionalmente, aconteciam pequenas atividades nesses espaços, como o Almoço com Poesia, que consistia em uma homenagem a poetas como Manoel de Barros e Mário de Andrade, feita através da declamação de poemas, além de conversas e bate-papos mais informais.








Foi somente lá pelo quarto dia de evento que finalmente saiu o bendito folheto com a programação. E acabaria sendo bem como meu irmão, Diego Akel, que me acompanhou em boa parte de tudo, falou: "Eles atrasam mas quando sair, vão distribuir tanto que logo vai ter um monte jogado no chão". Não cheguei a ver exatamente essa cena, mas de fato até o final todos os cantos estavam entupidos dele. Felicidade da minha caneta vermelha, que enfim teria sua função, e assim que tive o livreto em mãos, me pus a marcar tudo o que ainda me interessaria nos dias restantes da Bienal. 




Bom, antes de encerrar esta postagem, não posso deixar de falar um pouco mais sobre a feira de livros, os inúmeros expositores, nos quais passei boa parte do tempo, às vezes antes de uma palestra, ou depois, e até pertinho da hora de fechar. Com a experiência das Bienais anteriores, continuo percebendo que o melhor é fazer compras nos primeiros dias, quando o movimento ainda é favorável. Aquela ideia de encontrar um livro bom e pensar "ah, depois eu volto aqui e compro, tem muito tempo ainda" me levou a perder a Interpretação dos Sonhos, de Freud, que esgotou rapidamente em todos os estandes de que me lembrava de tê-lo visto. Quem sabe na próxima.

O sortimento de livros me pareceu novamente de amplo alcance, chegando facilmente aos mais variados públicos. Romances e contos seguem, como não poderia deixar de ser, em maior número. Infantis e variados também se faziam notar, chamando muitas crianças. Muitos expositores traziam também livros de áreas como direito, medicina, informática (esta bem desatualizada) etc, a preços mais acessíveis. Porém, alguns, como sempre acontece, traziam livros pelo mesmo preço das livrarias, ou até mais caros, o que era um absurdo. A meu ver, as Bienais do Livro, cujo objetivo maior seria incentivar a leitura, não deveriam aceitar essa atitude. Qual o sentindo de ir a uma Bienal para comprar um livro pelo preço de livraria? O mais incrível é que, de uma maneira ou de outra, esses livros estavam vendendo, e ninguém parecia se importar muito com as cifras...




Fiz minhas compras aos poucos, um pouquinho em cada dia, aceitando o fato de que era impossível ver tudo de uma só vez, e dando total preferência a valores realmente promocionais. Tantos livros, tantos expositores, logo não tardaria a vir aquele cansaço mental comum a essa experiência. Nessa hora, parava um pouco, tomava um café ou comia algo, para em seguida recomeçar. Então, enquanto remexia em meio aos livros, ou observava outros nesse processo, processo muitas vezes bastante mecânico, comecei a pensar o que de fato isso representava. Estar ali, em meio a dezenas, centenas, milhares de livros, procurando muitas vezes não se sabe nem o quê, mas procurando; lendo incontáveis sinopses, orelhas, contracapas; passando por livros estranhos que com certeza jamais compraríamos. É cansativo, desgastante, mas aquela é a alma do evento. Tenho vários ótimos livros aqui hoje que foram adquiridos justamente nessas condições, nas últimas edições. Na  Bienal de 2012, tentei ser o mais contido possível na escolha do que comprar. Muitas vezes o preço convidativo pode induzir a uma compra desnecessária. Garimpar é uma palavra de ordem, na Bienal e em eventos do tipo. Mas mesmo garimpando, é preciso ter freios.





É sempre valoroso ver um evento dedicado à leitura e literatura tão cheio, tão incendiado por calor humano. As noites e principalmente os últimos dias foram os mais intensos. O vai-e-vai frenético, a dificuldade de andar entre os estandes, ou mesmo no interior destes, o altíssimo barulho de vozes e gritos, tudo estava presente. Fiquei me perguntando se todos que estava comprando livros realmente iria lê-los ou era apenas para aproveitar o preço. Inconscientemente, eu também era alvo desta pergunta. Por mais que tivesse certeza de que queria determinado livro, muitas vezes era assaltado pela ideia "será que ele me será mesmo útil?". É sempre difícil fazer escolhas, embora sejam tão necessárias.





Para este ano, minha vontade foi comprar ainda menos, apenas o realmente necessário, e olhe lá. Claro que boas oportunidades e supresas sempre podem aparecer, e acabei mesmo por revirar mais uma vez livros e mais livros, atitude que, apesar de exaustiva, tem lá seu lado divertido. Priorizei biografias, antologias de contos, linguística e análise semiótica, de autores ou sobre autores que de alguma maneira li ou pretendo ler. Essa peneirada favoreceu a manter o foco no que realmente me interessava. O melhor da feira de livros da Bienal é mesmo essa liberdade de escolha. E no meio de tanta garimpagem, podemos encontrar boas pepitas de ouro.  

Um pensamento engraçado me veio certa vez, enquanto esperava o ônibus na parada, ao lado de inúmeras outras pessoas também saídas do centro de eventos, todas com sacolas cheias de livros. Fiquei pensando: "o que será que tem na sacola de livros alheia?". A ideia me fascinou de tal forma que fiquei pensando nela por horas. Seria possível saber muito da personalidade através do gosto literário... ao mesmo tempo, pensei o quão boba essa ideia poderia se tornar, em um típico telejornal, no qual um repórter sem sal faz essa pergunta aos visitantes de um evento literário, haha...

Nos dois últimos dias, a movimentação nos estandes era monstruosa, a ponto de ser difícil até para andar. O tumulto era ainda coroado pelo show de Gilberto Gil, que encerraria a Bienal com louvor. Não tinha interesse no show, nem em sua fila que cedo começou a se formar. Felizmente, nesse momento eu já estava satisfeito, com o que consegui comprar e sobretudo com o que consegui assistir, nas palestras. A Bienal do Livro 2014, apesar de todos os percalços, foi maravilhosa. Poder conhecer um pouco mais da vida e obra de Moreira Campos, as mesas com Milton Hatoum, Luiz Ruffato... enfim, assuntos para próximas postagens...

Último dia de Bienal trouxe movimentação caótica


Ufa, não estava nos meus planos escrever sobre a Bienal, mas acabei escrevendo, e muito! E logo mais, postagens sobre as mesas e palestras que pude assistir, até lá!



Foto: Diego Akel

Ah, e aproveito ainda para relembrar os posts referentes à Bienal do Livro de 2012, cuja qual me referi bastante neste texto:

Bienal do Livro do Ceará 2012 (I - O evento)
Bienal do Livro do Ceará 2012 (II - Ignácio de Loyola Brandão)
Bienal do Livro do Ceará 2012 (III - Márcia Tiburi)

E ainda sobre o tema Bienal do Livro, postagens referentes à edição de 2010, primeira que passei a acompanhar com afinco e a postar aqui:

Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (I- Introdução)
Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (II- Emir Sader/Cordel)
Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (III- Ziraldo)
Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (IV- Moacir C. Lopes)
Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (V- Pedro Bandeira)
Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (VI- Maurício de Sousa)
Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (VII- Marina Colasanti)
Bienal do Livro do Ceará 2010: minhas impressões (VIII- Conclusão)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Bienal do Livro do Ceará - 2014


Imagem: Google

Está acontecendo, finalmente, a XI edição da Bienal Internacional do Livro do Ceará. Este ano, homenageando a obra do grande contista cearense Moreira Campos.

Não estava muito empolgado com a bienal esse ano, principalmente por conta da fraquíssima divulgação, mas como um evento de literatura é sempre um evento de literatura, acabei invariavelmente mexido.

Acontecerá até o próximo domingo, dia 14 de dezembro, sempre das 9h às 22h. A entrada pode até ser gratuita, mas o estacionamento custa absurdos R$15, em taxa única.

Entre os destaques, estão, além de Moreira Campos, a homenagem também ao escritor amazonense Milton Hatoum. Ainda entre as mesas e palestras, nomes como Lira Neto, Luiz Ruffato e Xico Sá.

Estou acompanhando, na medida do possível, uma vez que como não há programação impressa, fica complicado decidir – e lembrar – o que se quer assistir. Em breve, farei aqui algumas postagens referentes ao evento em si e às palestras que pude acompanhar.

Mais informações sobre a Bienal no site oficial: http://bienaldolivro.org

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Livro: A Cabana


Fotos: Denis Akel

A Cabana é um daqueles livros que mesmo sem termos lido, certamente já ouvimos falar, seja através de algo, alguém, ou ainda pela superexposição que a mídia faz em cima de obras como essa, os best-sellers. Dificilmente essa seria uma de minhas prioridades de leitura, mas surgiu a oportunidade de lê-lo, quando uma tia me emprestou, e como estava curioso para ver o que havia na tal cabana, abracei a chance. Devo ter passado bem mais tempo do que imaginava envolvido neste livro, pois, diferente de outros, resolvi fazer aqui um estudo mais abrangente (também para tentar entender o fenômeno que ele se tornou), analisando capítulos individualmente, repensando e refletindo os rumos da história, e foi uma experiência no mínimo curiosa, que procurarei relatar ao longo desta breve postagem.

A trama geral do livro fala de um provável encontro com Deus, no qual o protagonista, Mack, se vê diante de uma trindade divina bastante, vamos dizer, incomum. O enredo começa quando Mack passa por uma grande perda em sua família e se vê desde então imerso numa grande tristeza, desiludido do mundo e de Deus, por não entender como Ele pôde permitir tal perda. Então, certo dia, depara-se com um bilhete, aparentemente escrito por Deus, que lhe propõe um encontro na cabana que dá título à obra, justo onde se deu sua grande perda, onde a filha de Mack foi assassinada. Esse jogo de emoções marca os momentos iniciais do livro. Revisitar a cabana, palco de angústias e tristezas parece algo improvável de Mack fazer, porém a estranheza daquela mensagem provoca a curiosidade dele. Será possível que Deus realmente estará à sua espera? Essa ideia fantástica logo povoa não apenas a mente de Mack, como do leitor, que se vê igualmente tentado. E aqui se inicia toda a saga de Mackenzie Allen Philipps, uma jornada que, segundo os inúmeros comentários ilustres que precedem o primeiro capítulo, pode mudar a vida daqueles que se permitirem tocar por ela.



Comecei a ler o livro sem muita pretensão, me deixando levar por sua história, amplamente surreal, emotiva e visivelmente convidativa. Apesar de ser um livro de tamanho médio (pouco mais de duzentas páginas), há pouquíssimos personagens, podendo-se reduzi-los a apenas Mack e o trio divino. Esse detalhe deixa a história com um ar mais pessoal, mais tangível, de maneira que podemos acompanhar toda a evolução do personagem, suas transformações, e, invariavelmente, nós colocarmos em seu lugar. Em contra-partida, às vezes a narrativa se perde um pouco do foco, o que resulta em trechos repetitivos, confusos e cansativos. 

A divina Trindade; Deus, Jesus e o Espírito Santo, aparecem com representações humanas bastante extravagantes, demonstrando que não há muita preocupação do autor em seguir preceitos tradicionais e teológicos, apesar de ser uma história de alto teor religioso. Os capítulos são breves, contendo praticamente apenas diálogos entre Mack e as divindades. Ele busca entender as razões pelas quais Deus faz o que faz, e questões sobre sofrimento, liberdade, fé e autoridade são diretamente focados. A cada capítulo Mack meio que recebe um novo ensinamento, como se a venda que lhe cobre a visão fosse retirada pouco a pouco.



O curioso quanto a esse livro é que, pelo que li e vi de entrevistas com William P. Young, ele foi inicialmente escrito para seus filhos, sem qualquer pretensão maior. Foi graças a dois amigos do autor que a obra foi projetada para uma tiragem maior, e foi aos poucos atingindo cada vez mais e mais pessoas, recebendo mais e mais traduções, até chegar ao status que tem hoje. Mas será que o livro é mesmo isso tudo o que dizem? Sem dúvida essa questão é bastante pessoal. Procurei lê-lo sem considerar essa ou aquela colocação, visando não ficar direcionado a pensar isso ou aquilo, mas alguns fatores que foram surgindo ao longo dos capítulos são bastante notáveis.

Primeiramente, o livro, apesar do teor religioso, desconsidera completamente a bíblia. Inclusive, pelo que pesquisei, é alvo de inúmeras polêmicas que alegam que ele deturpa boa parte do que é dito nas Escrituras. Ainda, sugere que a bíblia contém inverdades, mas que seria mesmo assim usada por Deus devido à complexidade que se tornou a vida humana depois de se afastar Dele. Assim, a trama também sugere que há verdades além da Bíblia que só o homem que se relaciona com Deus pode alcançar. Um exemplo disso está no capítulo 6 (Aula de voo), quando Deus ironiza: "Aqui não é escola dominical. É uma aula de voo".

O principal entrechoque de opiniões referentes a A Cabana, a meu ver, é justamente quando se quer pensar nela como "uma nova bíblia". O livro tem sim um alto valor emocional, uma ótima história, reconfortante até, mas em nenhum momento deve ser confundido com nada além disso. Um de meus pensamentos, durante a leitura foi "com que liberdade o autor pode se colocar no papel de Deus e dizer o que é certo ou errado? E como as pessoas que lêem acreditam assim tão cegamente?" Tudo o que ele faz é criar um estereótipo para Deus, mas o faz de maneira realista, convincente. Young vende seus princípios sobre Deus como se fosse a mais absoluta verdade, mas acaba, involuntariamente, contrariando a Palavra revelada por Ele.



Por não ter qualquer intenção de concordar com as Escrituras, o livro busca inserir novos conceitos, apresentar uma nova verdade, uma verdade que se por um lado pode ser bastante herética, por outro permite uma visão bastante peculiar e ousada, que deve ser interpretada não como verdade absoluta, mas como um ponto de vista, o ponto de vista do autor. Segundo ele, aliás, a simbologia da cabana atua como uma metáfora para um local de aprisionamento ou de dor, como se cada pessoa tivesse uma cabana em sua vida, ou seja um lugar que de alguma maneira as machucou profundamente e que jamais pensam em voltar. Imagino também que o protagonista da história, Mack, tenha muito de William P. Young, de maneira que a trama constitui um relato bastante particular, a história de sua vida, pode-se dizer, pois havia sido escrita a seus filhos.




Deixando de lado o fator teológico e focando um pouco no aspecto literário, A Cabana é excelente, no âmbito de ser uma história feita sob medida para emocionar e comover. Há um aspecto de realidade mesclado com fantasia, como uma fábula, que valoriza bastante a trama, tornando-a agradável e atrativa. A narração, viva e pungente, descreve com clareza a intensa viagem pela qual o protagonista passa, com cenas em geral bem construídas e articuladas. À primeira vista, o livro tem fortes ares de romance policial, à medida que somos apresentados aos personagens, à trama e ao lugar. Em certo capítulo, porém, dá-se uma virada brusca nesse ponteiro, e chegamos assim ao córrego que nos conduzirá até o final; conversas de Mack com a trindade. Pode até ser impressão, mas percebi que a partir daqui um ou outro capítulo não consegue manter a força do anterior, de modo que ficamos sempre à espera de que aconteça algo realmente relevante na história.

Uma das coisas que mais me desagradou no livro, e que também foi uma certa surpresa, surgiu logo quando o terminei. Nas últimas páginas há um "pedido" nada modesto, para que simplesmente o leitor busque passar aquela história adiante, oralmente ou mesmo dando o livro de presente a amigos, familiares e até desconhecidos. A pretensão com que o "livro" (na verdade um grupo de leitores muito tocados pela obra) fala de si mesmo chega a ser ridícula, de modo que ele nitidamente perde o foco ao  se supervalorizar. É preciso mesmo que o público seja lembrado?  Se a obra afinal é tão contundente e transformadora, nada mais natural do que ela contagiar naturalmente mais e mais pessoas, sem a necessidade de que sejam sugeridas maneiras de como fazer isso. É como dizem, quem fala demais de si é porque no fundo não tem nada a dizer. A partir do momento que é pedido para que sua história seja passada adiante fica implícito um receio de que ela, por si só, não consiga esse feito. E ainda, de certa forma, é quase como se ao fazer isso o livro, e também o grupo de leitores, contrariasse os ensinamentos do Deus inventado pelo próprio autor, que afirma em certo trecho que "Eu não crio instituições. Nunca criei, nunca criarei".



A Cabana, contudo, se sobressai mesmo com seu forte apelo emocional, que permeia a todo instante o caráter do protagonista e, através de descrições precisas e às vezes até exageradas, são transmitidas ao leitor em toda sua essência. Há sim, como já se deve imaginar que um livro assim traga, um rebuscado de frase bonitas e de efeito, mas há também muito mais além disso. Não vou, porém, recomendar diretamente o livro, contrariando o que este me pede para fazer. Prefiro apenas dizer, ignorando todo o estardalhaço que há em volta dele, que é uma boa história, que merece sim ser conhecida e apreciada. É certo que por ser uma obra de ficção, não se pode atribuir ao Deus inventado a condição de Deus verdadeiro, embora não seja bem essa a sensação que é vista no decorrer da história, na qual seus conceitos alfinetam e podem acabar perpassando os conceitos ditos sagrados. Deve ser lido e encarado, sobretudo, com a mente aberta, sem grandes expectativas, apenas se deixando levar, aproveitando o momento, a viagem que o autor propõe, reconhecendo que a trindade criada por ele funcionou muito bem em sua história, e que talvez cada um de nós possa fazer o mesmo, já que todos temos uma cabana em nossa vida, não é mesmo?



terça-feira, 3 de junho de 2014

Família Felina




Finalmente de volta ao blog! Nossa, já faz quase um ano desde a última vez que postei algo aqui! Em parte, a foto acima é a razão desse hiato no blog. A história desses gatos é bem peculiar. Eles chegaram à minha vida de maneira inesperada e eu, que nunca tinha criado nenhum animal, me vi de repente completamente envolvido, a ponto de quase não ter tempo para qualquer coisa que não fosse relacionada aos felinos. É um pouco dessa história que pretendo contar ao longo deste post, um breve resumo dos últimos meses. 

Tudo teve início durante o mês de julho do ano passado, no qual eu estava ajudando meu irmão, Diego, em algumas produções, na Casa Amarela. Estávamos em um ritmo intenso, trabalhando em vários projetos, mas mais focados  no videoclipe animado Agradecimento (o qual ainda pretendo fazer um post a respeito). Durante o tempo que passávamos por lá, entre uma saída e outra da sala da truca, palco central de nosso trabalho, nos deparamos pela primeira vez com a gatona aí de cima, a gata mãe, que na época, por inexperiência, acreditávamos ser um gato macho. Era comum aparecerem gatos por ali, uma vez que os muros eram baixos e o ambiente convidativo aos felinos, mas mal sabíamos nós que aquela gata não estava ali por acaso. Nosso primeiro contato, aliás, foi no mínimo estranho, pois sua aparência não era das melhores; pêlo arrepiado, olhos esbugalhados e miado rouco. Ela mais nos causou susto do que qualquer outra coisa. A angústia do olhar, contudo, tinha uma razão: estava faminta. Na hora, por conta da correria desenfreada do trabalho, acabamos sem poder fazer nada por ela.

Um pouco mais tarde, nesse mesmo dia, pedimos pizzas para o jantar, e quando fui jogar fora as embalagens e os eventuais restos de massa, me deparei novamente com a gata, mas dessa vez ela não estava como antes. Estava calma e logo se aproximou de mim, se pondo a miar, um miado agora suave, mas ainda claramente de pedido. Como depois viríamos a perceber, essa gata miava muito, sendo essa uma de suas principais peculiaridades. Olhei para ela, e lembrei dos restos de pizza que tinham sobrado, que estavam ali pertinho, nas caixas que iam para o lixo. Resolvi então dá-los ao pobre felino. Peguei os pedaços de massa e os atirei perto dela. Foi quase instantâneo: a gata os atacou de imediato, faminta como estava. Comeu quase todas as migalhas de massa e pedaços de calabresa. Eu sabia que esse estava longe de ser o alimento ideal para ela, mas com certeza era mais ideal do que não ter nenhum alimento. Satisfeito pelo que tinha feito, voltei para junto do pessoal.

Comentei meu gesto com Diego e Grá, amiga nossa que fazia parte da equipe de produção. Ela me contou que já tinha visto a gata, já tinha lhe dado algum alimento e que no dia seguinte iria trazer ração. Grá então foi nos contando detalhes sobre os hábitos dos gatos, pois ela tinha um, e estava bem acostumada a esse mundo. Aqui, então, soubemos que aquele gato que tinha aparecido ali não era gato, mas sim gata, e mais: havia a possibilidade de estar esperando filhotes. Grá nos explicou que as fêmeas geralmente têm três tonalidades de cor na pelagem, e essa gata de fato era salpicada de branco, preto e marrom. Nosso trabalho então seguiu, e não vimos mais a gata naquele dia. À noite, em casa, fiquei pensando em tudo isso, toda essa nova experiência. Provavelmente no dia seguinte ela já teria ido embora, e tudo aquilo seria esquecido.



No dia seguinte, assim que chegamos lá, vi que Grá colocara um pratinho com ração e outro com água para a gatinha, mas não a vi em nenhum lugar. Com certeza já tinha sumido no mundo, da mesma maneira como apareceu, pensei. Grá, porém, me garantiu que ela ainda estava lá e que já tinha comido bastante. Pouco depois, vi a gatinha, e ela veio diretamente a mim, naturalmente, miando, com aqueles belos e expressivos olhos esverdeados. Parou próxima e continuou miando, depois passando entre minhas pernas, meio que roçando. Era um gesto que a princípio podia não agradar muito, mas que depois percebi se tratar de um pedido de carinho, uma aproximação, uma maneira da gatinha chamar atenção. Passei a aceitar esse gesto, e a retribui-lo com afagos e carinhos, e creio que assim comecei a criar um vínculo com ela. 

O desenrolar desses dias, pelo menos quanto ao nosso trabalho no videoclipe, foram bem exaustivos, pois passamos da hora muitas vezes, inclusive adentrando madrugadas. Com certeza a presença da gatinha nesses momentos foi de grande importância, pelo menos para mim. Após os primeiros contatos, eu ficava na sala pensando como ela estaria lá fora, se ainda estava lá. De tal maneira que aproveitava uma ou outra pausa do trabalho para sair e brincar um pouco com ela, que sempre me recebia com muita efusão. Era engraçado, pois me senti quase como se já tivesse aquele contato há tempos, sendo que nunca – nunca mesmo – tinha tido nenhum animal de estimação, ideia que com certeza sequer chegava a considerar. 

Passamos então a alimentá-la todos os dias, e isso favoreceu ainda mais a aproximação dela com nossa equipe, principalmente comigo, que costumava lhe dedicar mais tempo. Muitas foram as vezes em que ela entrava na salinha onde estávamos produzindo o videclipe, e logo se refestelava em uma das poltronas e cadeiras, entregando-se a um sono puro e tranquilo. Era tão relaxante que até nos motivava a animar com mais afinco. Uma das coisas que mais me chamou a atenção nessa gatinha, além de seus miados constantes, foi sua docilidade; sempre se aproximava de todos que de uma maneira ou de outra estavam pelos corredores da Casa Amarela. Seu carisma contagiava. Todos se encantavam com ela, lhe faziam carinho, lhe afagavam a cabeça. Claro que nem tudo eram flores e também havia os que não gostavam muito dela, ao que gata, que não é besta nem nada, procurava evitar. Por causa dela, aconteceram até reuniões entre os funcionários, a fim de estabeler "oficialmente" a presença da gatinha ali. 




Uma das situações mais curiosas desse início de convívio se deu em um dos dias onde madrugamos na Casa Amarela. Em um dos muitos momentos em que deixei a sala para respirar outros ares (e também olhar a gatinha), sentei num banco lá fora, e me pus a relaxar. Já devia passar das duas da manhã. A gatinha logo veio e se aninhou ao meu lado no banco. Ali fiquei, alternando olhares entre o céu estrelado e a felina, até que de repente, sentindo o peso do cansaço acumulado do dia, comecei a cochilar, tornando a cabeça para trás. As pálpebras já fechavam quando senti uma das patinhas da gata em meu braço, com uma leve faiscada do contato com suas unhas. Percebi então o que ela fizera: ao meu lado, esticou-se para frente, ergueu uma das patinhas e me cutucou levemente, meio que para me acordar, como quem diz: "não é hora de dormir agora" ou "acorda e olha pra mim". Achei notável essa sua iniciativa, em perceber que eu começava a dormir e ao fazer o que podia para me acordar. Sem dúvida, nosso vínculo ficava mais forte a cada dia. 

E assim passaram-se dias, e essa realidade continuou fazendo parte de minha rotina, ao menos enquanto estava na Casa Amarela. E, invariavelmente, pensei em como seria se eu por acaso a adotasse, a levasse para casa. Daria eu conta de cuidar dela? Seria uma experiência totalmente nova, sem dúvida. As meninas que compunham nossa equipe, Grá e Carol, disseram que até levariam a gatinha, mas ambas tinham empecilhos; Carol, dois cachorros e Grá, uma gata ciumenta. Ninguém mais manifestou vontade de ficar com a pobre gatinha, que enquanto isso ia sobrevivendo da generosidade dos que passavam diariamente pela Casa Amarela. 

Por mim, já a teria levado pra casa, já teria aceitado essa nova responsabilidade. Diego também achava uma ideia interessante, principalmente após todo o apoio que Grá se comprometeu a nos dar, mas ainda dependia da aceitação de nossa minha mãe, que não parecia muito a favor, sempre não aprofundando muito quando eu tocava no assunto. Ela até gostava de gatos, desde que estivessem longe, e sempre dizia a sentença: "não gosto quando eles ficam roçando na gente". Por mais que eu comentasse, falando as vantagens de se ter um gato, pelo que pesquisara e ouvira de amigos, mamãe não era flexível, e assim a questão ficou um longo tempo em aberto.

Mais dias se passaram, o ritmo de trabalho no videoclipe Agradecimento chegava a seu clímax. A gatinha seguia como mascote oficial do curta, ganhando inclusive aparições nos bastidores. Ela vinha por enquanto sendo chamada de Aparecida, nome dado por Dona Vera, funcionária da Casa Amarela que também se afeiçoara bastante a ela (mas que não poderia adotá-la por também ter cachorros em casa). Tudo estava tranquilo, porque também ainda não sabíamos que a gatinha estava de fato esperando filhotes. 

Mesmo com as luzes apagadas na filmagem, a gatinha prestava atenção a tudo

É interessante mencionar também que desde os primeiros contatos que tivemos com ela, vimos logo que não se tratava exatamente de um gato de rua. Não costumava se assustar, nem com pessoas, nem com carros. Parecia de alguma maneira bem educada, uma vez que não arranhava, não mordia, mesmo quando lhe fazíamos carinho na barriga (posição mais vulnerável dos felinos). A hipótese mais provável para ela ter ido parar na Casa Amarela era mesmo abandono por parte de seu antigo dono, ou fuga – chegamos até a sondar se alguém das imediações dera por falta dela, sem sucesso. Contudo, nada de seu bom comportamento a livraria de sua natureza felina, e imaginamos que cedo ou tarde, se não agíssemos, ela iria ter filhotes. A solução seria castrá-la, mas ainda até esse momento não estávamos bem certos de que a adotaríamos, embora inconscientemente já nos sentíssemos responsáveis por ela. A medida então seria apenas para mantê-la na Casa Amarela, e até buscamos referências de locais e preços, mas tudo chocou-se com o prazo que tínhamos para finalizar o filme, de tal modo que quando percebemos, não deu outra, a gatinha estava esperando filhotes. E mal sabíamos o rumo que esses filhotes dariam à nossa vida. 

A notícia dividiu opiniões; por um lado seria uma experiência única acompanhar o nascimento dos filhotes enquanto que por outro agora seria bem mais difícil cuidar de toda a família felina, e talvez até inviabilizasse a vinda da gata mãe – já bastante complicada – para nossa casa. Foi Natália, outra amiga de Diego, que estava de passagem por lá certo dia, que atestou, com firmeza, a gravidez. Antes, suspeitávamos, mas achávamos que a gatinha estava gordinha apenas por comer demais. Agora estava fora de questão castrá-la, ela teria mesmo os filhotinhos.   

E tudo se deu mais rápido do que imaginávamos. Conforme pesquisei, a gestação dos gatos dura em média apenas 65 dias, e uma ou duas semanas após concluirmos a produção de nosso videoclipe, soubemos que os filhotes já tinham nascido. Fomos até lá esperando encontrar uma ninhada de pelo menos uns cinco ou seis gatinhos, mas eram apenas três! E como eram diferentes entre si, com relação à pelagem! Um era preto com branco, outro dourado com branco e o último todo acinzentado. A estranha mistura seria explicada pelo fato de cada um ter um pai diferente, pelo que pesquisei depois. O comportamento da gata mudou completamente, passando ela a ficar quase integralmente com os filhotes, amamentado-os. Também não ficava nada feliz se alguém por acaso chegasse perto de um dos gatinhos. Passamos então a ir ocasionalmente lá, deixar ração, uma vez que a mamãe precisava comer mais do que nunca para garantir leite para seus filhotes. 




Contudo, nada ainda havia sido concretizado sobre eu vir a adotar ou não a gata mãe. O nascimento dos filhotes meio que bagunçou um pouco esse ideal, uma vez que agora não poderíamos separá-los até que passassem cerca de 2 meses, tempo mínimo recomendado para que desmamassem. E muito provavelmente eles teriam passado esse tempo lá mesmo na Casa Amarela, não fosse minha intervenção, para propiciar um local melhor e mais seguro para abrigá-los, como direi mais adiante.

Foi arranjada uma caixa de papelão, na qual foi feita a caixa-maternidade, que manteria os filhotes seguros e a mamãe teria tranquilidade para alimentá-los em segurança. Essa caixa foi colocada numa salinha reservada lá mesmo, e por lá a família felina ficou nos primeiros dias dos recém-nascidos. A princípio, não tive razão para querer tirá-los dali, mas foi mesmo a própria mamãe gata que demonstrou estar insatisfeita, cerca de duas semanas após o nascimento, época em que os filhotes começaram a abrir os olhinhos.

Ela simplesmente começou a tirar os filhotes um a um da caixa, com a boca, e levá-los para locais bastante inóspitos, como uma passarela que dava para a sala de cinema. E não adiantava trazê-los de volta, pois não demorava lá estava a gata mãe novamente levando-os para lá. Pelo que pesquisei (sim, durante toda essa época, tive de fazer inúmeras pesquisas, virando quase um especialista em comportamento felino), esse comportamento se dá quando a mamãe gata percebe que o local onde está seu ninho é inseguro, perigoso para sua cria, e busca assim um lugar mais protegido. E a Casa Amarela, de um jeito ou de outro, tem uma boa circulação de pessoas por dia, principalmente quando lá acontecem eventos e exibições de filmes. Tudo bem que a intenção era proteger a cria, mas do jeito que as coisas estavam, a mamãe gata podia acabar achando eram mais problemas, pois essa passarela de acesso ao cinema era de fluxo constante nos dias de sessão. Os gatinhos corriam bem mais riscos ali, não havia dúvida. Quando me dei conta desse risco, ainda maior porque bem naquele período aconteceria o Cine Ceará – que teria inúmeras atividades no local – tive a certeza de que tinha de fazer alguma coisa, ainda naquele mesmo dia. 

O que aconteceu a seguir foi invariavelmente muito rápido. Agilizamos a vinda de toda a família – os quatro gatos – para nossa casa. Mamãe ainda não estava bem certa de aceitar, mas acabou cedendo, também de alguma maneira penalizada pelo risco que os felinos corriam. Tivemos de armar toda uma operação para tal ato. Primeiro, a caixa maternidade foi transformada em uma jaulinha, pois era muito mais conveniente transportar os filhotes ali mesmo. A grande dificuldade foi mesmo fazer com que a mamãe gata colaborasse, entrando também. Após vários minutos de tentativas, ela finalmente consentiu, ficando quietinha lá dentro. Assim, selamos a caixa e fomos direto para casa. No trânsito, eu estava em um misto de euforia e receio. Era fantástico enfim trazer a gatinha para casa, claro, não havia dúvida, mas a preocupação seguia, agora multiplicada por quatro. Será que daríamos conta de todos aqueles gatos, tão inexperientes como éramos? Tudo era nebuloso, à medida que meu pensamento vagava perdido entre a noite da janela do carro e os miados que hora e outra vinham da caixinha colocada ao meu lado.



PARTE II - A chegada em casa

Chegar com os gatos em casa foi uma emoção completamente diferente de tudo o que senti até hoje. Não era nenhuma compra, nenhuma tecnologia revolucionária, nenhum objeto estúpido, eram tão somente gatos, o que poderia ser mais simples do que isso? Talvez justamente por isso tenha sido um momento tão marcante, tão glorioso. Eram vidas, vidas que tínhamos resgatado. Vê-los todos, ali, agora no chão de casa, foi um momento mágico e, sem qualquer experiência com animais, nos vimos subitamente inundados por aqueles seres tão graciosos, tão carentes. A mamãe gata estranhou um pouco, mas como não era boba tratou logo de conhecer o novo lar, e se pôs a andar por todos os cômodos da casa, enquanto a ninhada aguardava na caixa. Os primeiros dias foram bastante difíceis, estávamos todos nos adaptando, tanto nós como os gatos. Foi preciso reestruturar muita coisa, principalmente nossas vidas, para nos adaptarmos a essa nova realidade. 

Algumas coisas, porém, não mudaram. Colocávamos a caixa maternidade em um lugar tranquilo da casa, pouco tempo depois lá vinha a mãe e começava a carregar os filhotes para os locais mais malucos, como atrás de estante e móveis, muitas vezes até empoeirados. De início achamos ruim, tentamos trazê-los de volta, mas logo ela tornava a levá-los. Como estávamos na segurança de casa, não ligamos mais, deixando a mamãe gata seguir seus instintos. Com o tempo, todos os gatinhos abriram os olhos, e foram pouco a pouco saltando para fora da caixinha. A cada variação de seu crescimento, mais tínhamos de aprender para poder criá-los adequadamente, e muitas vezes a tarefa se tornava bem exaustiva. Felizmente, grande parte do esforço era recompensado, ao vermos aquelas criaturinhas ali, tão vulneráveis, tão inocentes, dormindo. Quando os vimos começando a andar, então, com aqueles passinhos trôpegos e desengonçados! Tendo os acompanhado desde o nascimento, foi muito gratificante. 





E seguiu-se o tempo, implacável como sempre, e logo os filhotes cresceram. Com cerca de dois meses, ainda mamavam, mas já comiam ração, bebiam água e, por conseguinte, precisavam fazer suas necessidades. Nós já tínhamos comprado uma caixa de areia, para uso da gata mãe, que felizmente nunca nos deu trabalho quanto a isso, pois sempre a usava. Aprender a limpar a caixinha de areia foi um divisor de águas. De início, eu usava a pazinha com certa timidez, sem ter bem certeza se estava fazendo corretamente. A prática logo veio, após uma dúzia de vezes, e essa tarefa – por incrível que parece – se tornou até prazerosa. Costumo até brincar, dizendo que é quase como o trabalho daqueles garimpeiros de ouro. A diferença é que o "ouro" que encontro aqui não vale muita coisa. 


O trio, com cerca de quatro meses




Uma das primeiras medidas que tivemos que agilizar foi levar todos ao veterinário. Era um mundo completamente novo para mim, Diego e mamãe. Sondar a vizinhança, as ruas conhecidas, a cidade, em busca de petshops, locais onde sempre passávamos indiferentes, mas que agora teriam significado. E logo vieram todos os protocolos comuns, todos os cuidados, as vacinas, vermifugações, reforços, consultas etc. Marinheiros de primeira viagem, tivemos de assimilar tudo isso, e dedicar todo esse tempo extra aos bichinhos, fundamental para a saúde deles.

Os filhotes logo passaram a usar o banheiro da mãe (ela mesma os ensinava a usar!), o que significaria uma dose extra de "ouro" para ser garimpado. E com isso fomos estabelecendo um vínculo cada vez maior com eles, uma interação tão afetiva como se sempre os tivéssemos tido. Foi difícil inicialmente, depois que começaram a andar, correr e principalmente saltar, estabelecer um local para eles, que até então ainda ficavam acomodados por dentro de casa. Felizmente temos uma garagem vazia à disposição, e lá foi feita a morada dos gatos, que vez ou outra ainda deixávamos brincar pela casa, relembrando assim os dias de suas primeiras infâncias, quando mal conseguiam subir no sofá da sala. 



Sabíamos, contudo, que não poderíamos ficar com toda a família felina, que apesar de estarem nos fazendo bem, era uma tremenda responsabilidade. Eu, como principal responsável, tinha de me virar para dar conta de toda a rotina diária deles e ainda manter minhas atividades. Por conta disso, inevitavelmente, tive de diminuir o ritmo de algumas coisas e até parar outras, como foi o caso do blog. Houve vezes que quase me arrependi de tê-los trazido, mas também houve muitas em que agradeci cada momento que já tinha passado com eles, toda a dedicação que pude lhes dar, por tudo que essa experiência tinha me feito crescer.

Nessa altura os gatinhos filhotes já estavam com cerca de três ou quatro meses. Já tinham desmamado. Era o momento de doá-los, mas a cada dia que passava, ficava mais difícil. Queríamos nos desapegar, mas já estávamos mais do que apegados. Já tínhamos lhes dado nomes, sem nos darmos conta do vínculo que isso criava. Ficava os acariciando às vezes até perder o tempo, sentindo a maciez do pêlo, relaxando e desestressando junto com ele. Volta e meia lá estava eu brincando com toda a turma, com um ratinho plástico ou um cordão velho, e apenas isso era para eles a maior alegria do dia, como um brinquedo para uma criança pobre. Quando brincava com eles, a diversão era mútua, pois sempre ria das peripécias que faziam para pegar a 'presa'.
Durante muito tempo, consideramos doar todos os filhotes e ficar com a mãe, que agora chamávamos de Ninha, depois pensamos em ficar com ela e mais um filhote, cogitamos também ficar com apenas um filhote, enfim, a única semelhança em todas essas possibilidades era que queríamos que os gatos doados fossem para pessoas de confiança, que gostassem de bichos, que soubéssemos que iriam cuidar bem deles e que de repente pudéssemos revê-los, em algum momento do futuro. Até o momento, não achamos essas pessoas. Mas agora fico a me perguntar: será que queremos mesmo achá-las?



O resto é história. Eu poderia dizer ainda muito mais aqui, de todo o desdobramento que estamos fazendo para cuidar da família felina do dia em que chegaram aqui, ainda em setembro do ano passado, até hoje, mas isso levaria provavelmente mais o dobro dessa postagem. Independente do destino que terão os gatos, conosco ou doados, tenho a certeza de que eles nos fizeram muito mais bem do que imaginávamos. Foram capazes de, de certa maneira, nos tornar mais humanos, mais sensíveis. Hoje, sempre que vemos um animal abandonado, nos compadecemos mais, como que aptos a ajudá-los, revoltados com o descaso que o levou a estar ali, vagando sem destino. É uma triste realidade, que agora enxergamos com outros olhos. 
Bom, senti a necessidade de comentar essa história aqui, para, além de registrá-la, mostrar como há coisas que acontecem que mudam bastante nossa vida, que nos direcionam a caminhos impensados, que acabam revelando valorosos propósitos. Fico pensando às vezes, que se fosse por minha vontade, provavelmente nunca me interessaria em ter um gato, digo ir a um petshop para comprar um e tal, não. Esse caso foi bem insólito, pois foi longe de ser premeditado. É como dizem por aí, afinal, não somos nós que escolhemos o gato, e sim ele que nos escolhe.