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"O coração que se ganha é o que se dá em troca"Marcelino Freire



segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Balada do Guarda-Roupa


Fotos: Diego Akel e Denis Akel

Nossa, fazia já um longo tempo que não me envolvia tão diretamente na produção de uma animação, ao ponto de que já quase não me lembrava do quão intensa é essa experiência! A última vez ainda tinha sido em 2009, quando fiz, ao lado de meu irmão, Diego Akel, o curta Golpe Postal. De lá para cá, tive várias ideias para futuros projetos, como Polígonos e outros, mas me vi mais tragado ao mundo literário, e segui na medida do possível, colaborando com ideias e sugestões nos trabalhos que Diego fez depois do Golpe.

Planejamento demais, muitas vezes, leva à estagnação. Talvez seja bem por isso que alguns de nossos projetos ainda não caminharam tanto quanto gostaríamos. A Balada do Guarda-roupa, porém, contraria completamente essa maré. O filme, inicialmente, surgiu quase sem nenhum planejamento, assim de um lampejo, tão intenso que praticamente só nos demos conta do que tínhamos feito quando o finalizamos. E querem saber? Talvez, afinal, essa seja a melhor maneira de trabalhar. Fazer as coisas sem se dar conta de que as estamos fazendo.

Balada do Guarda-Roupa tem sua origem direta na música que embala todo o filme, "Bm Klezmer", da banda americana The Underscore Orkestra. Diego me disse que sempre quis fazer um trabalho tendo já uma trilha sonora como guia, e que há tempos estava de olho nas músicas desta banda. Até que certo dia, em uma de nossas muitas madrugadas insones, ele descobre esta bela composição. Pronto, estava dado o primeiro passo. Diego desde já teve a certeza: faria um filme com aquela música. Ele entrou em contato com o pessoal da banda, uma vez que já tinha visto no site do grupo que as músicas estariam disponíveis sob licença Creative Commons, e uma vez plenamente autorizado, deu início então à produção do filme.

Inicialmente, a ideia era usar brinquedos, animando-os em stop motion de acordo com a trilha sonora. Seria uma interpretação livre da música. Os brinquedos seriam dispostos como uma bandinha, cada um com um instrumento musical, representados por canetas, tampas, objetos que juntos lembrassem violinos, sanfonas etc. Nós guardamos aqui ainda muitos brinquedos, remanescentes de uma infância que até hoje lembramos com grande apego, seria uma boa utilização para eles, afinal.

Com o passar dos dias e evolução do projeto, Diego, que me pôs a par dessa ideia, decidiu que não usaria mais os brinquedos, pois isso demandaria mais tempo, para recolhê-los, prepará-los, e aí então animá-los. O que o ajudou a tomar essa decisão foi quando ele, por acaso, se deparou com um cinto e um pente, e percebeu nesses objetos mais do que eles aparentemente representam. Diego viu ali, de alguma maneira, a imagem de um violino. O filme começava a tomar uma guinada diferente. Eufórico, Diego correu para os guarda-roupas aqui de casa, e pegou o que pôde. A ideia do violino foi aprimorada quando ele viu alguns cabides, e sua imaginação foi tratando do resto. Saiam de cena definitivamente os brinquedos, para dar espaço àqueles objetos tão comuns, tão do dia-a-da, que acabariam tendo bem mais o que dizer. Ao perceber a grandeza e unidade de um cinto, visto sob a perspectiva não de acessório, mas como objeto a ser animado, Diego tem então a visão nítida do que usar para fazer seu filme. Cintos, roupas, sapatos, cabides, e assim os objetos foram, naturalmente, se juntando ao elenco da produção. Foi ainda nesse momento de redescoberta que ele teve a ideia do título do filme, Balada do Guarda-Roupa, um nome que até então ainda era provisório, mas que à medida que víamos o desenrolar das cenas, se encaixava muito bem na proposta, bem como na música.



Toda essa concepção inicial do filme surgiu, ainda por cima, sob a ideia louca de finalizá-lo a tempo de enviar para o Anima Mundi (para a categoria Anima Multi, competição de animações online) desse ano, cujo prazo terminaria em cerca de uma semana a partir do ponto que começamos, ou seja, teríamos apenas sete dias para concluir o filme! Era algo tão absurdo de imaginar, que preferíamos evitar pensar nisso, e ir começando a produzi-lo.

O filme inteiro foi animado no NUCA, Núcleo de Cinema de Animação Casa Amarela Eusélio Oliveira. Diego tinha feito por lá, recentemente, uma vinheta para o festival de animação MUMIA (veja aqui), usando o equipamento local, que consiste em uma truca profissional de animação, um aparato muito eficiente no meio, que permite afixar câmera, níveis de altura, entre outras coisas. É ótima pela praticidade com que torna o trabalho do animador. Já com alguns trabalhos feitos nessa truca, Diego teve a ideia de fazer o Balada nela, onde teria boa liberdade para mover os objetos, boa iluminação, além, é claro, da assistência do também grande animador Josimário Façanha, que trabalha na instituição.



Em meu primeiro dia no filme (um dia após o início oficial da produção), reunimos todo o material interessante que encontramos. Trouxemos de nossa casa cintos, pentes, colares, anéis, fivelas, muitas roupas, e ainda pedimos outras tantas emprestadas aos colaboradores, além de cabides e o que mais pudessem trazer. Colocamos tudo isso numa mesa, bem ao lado da truca. O ambiente reservado é ótimo para trabalhar. Foi colocada uma base de madeira sobre a superfície da truca, ajustadas as duas luzes laterais, que cuidariam da boa iluminação do filme, posicionada a câmera, preparado o notebook que faria a captação das imagens (usamos o software Dragon Frame) e pronto. O resto agora cabia aos objetos, ao que nós faríamos deles.

Caos ordenado; algumas das roupas e acessórios que usamos no filme

Diego já tinha feito uma cena no dia anterior, animando dois cintos, a primeira cena do filme, e agora teríamos que continuar a partir dela. Um dos maiores desafios era a questão da duração da música, que tinha cerca de 5 minutos. O filme teria que ter praticamente a mesma duração, então tínhamos que ter cuidado com cada cena, com cada ritmo e batida, com o efeito que queríamos passar com os objetos, que de certa forma deveriam representar aquela melodia. Diego, até o final das quase duas semanas que levamos para terminar o curta, ouviu exaustivamente a música, tendo-a praticamente decodificado. Ele sabia com rigoroso controle onde começava e terminava cada trecho, e isso lhe moldou para que fosse aos poucos montando todas as cenas.

Ao longo de todos esses dias, do fim de maio ao começo de junho, nossa rotina na Casa Amarela foi bastante intensa. Quando chegávamos em casa, já à noitinha, Diego ia tratar as inúmeras fotos que tínhamos (eram cerca de 300, 400 por dia) e começar a montar o filme. Com o tratamento de cores, era visível a vida que as imagens ganhavam, e agrupadas junto à música, já era possível ter uma prévia de como estava ficando o trabalho. Assistíamos várias vezes, tanto em casa, como sempre logo que chegávamos à Casa Amarela, nas manhãs seguintes. Era uma maneira de reorgarnizar nossas ideias, e nos preparar para as cenas que faríamos naquele dia. Isso foi algo tão marcante para mim que sempre que vejo os primeiros 20 ou 30 segundos do filme, lembro vivamente de quando os via, ainda na salinha da truca, em um destes momentos de que falei. 

Inicialmente, as cenas eram relativamente calmas, ainda estávamos desenvolvendo um ritmo, enquanto aprendíamos como trabalhar com aqueles objetos. Animar anéis, pente e cintos era divertido. A liberdade era enorme; criávamos padrões e movimentos próprios, como o efeito do cinto saindo pelo braço da camisa ou entrando pelo bolso da calça, de maneira a sempre buscar uma interação entre os elementos que tínhamos.







Os momentos onde a música crescia, se intensificava, foram propícios para cenas rápidas e totalmente livres. Poucos frames, que criavam um pequeno caos, um delírio que confundia ao mesmo tempo que encantava, tal como a música. Nos divertimos muitos nessas cenas, que eram feitas rapidamente, justamente por não haver muito planejamento nelas. 

As roupas foram, por si só, quase um capítulo à parte. Possibilitaram uma extensa variedade de texturas e cores, que renovavam e transformavam o filme em muitas das transições. Era engraçado ver calças, camisas, gravatas, e manipulá-las daquela forma. Animar é, sobretudo, dar vida, e só quando estamos lá, interagindo com tudo, que percebemos o poder que temos nas mãos.







Criar pequenas sequências com os objetos também foi uma constante. Às vezes, estabelecíamos mais ou menos movimentos para eles, quase como criando uma pequena narrativa muda, e animávamos. Claro, acontecia sempre pequenos imprevistos e a animação caminhava para um lado não pensando, mas não menos interessante. Os objetos, de certa forma, nos diziam como queriam ser animados.




Durante boa parte das cenas, usamos uma folha de madeira como plano central, que possibilitou que girássemos o plano livremente, tornando possível uma nova variedade de transições e interações entre os objetos. Com as funcionalidades da truca, podíamos ainda aproximar ou afastar a altura da câmera, fechando ou abrindo o plano, tornando todo o conjunto de cenas ainda mais pulsante e feroz.

Nos revezávamos constantemente; enquanto um animava, o outro ficava a cargo de captar as imagens, usando um pequeno controle que acionava a câmera. Desse modo, o animador da cena teria sua atenção inteiramente voltada para ela, sem ter de precisar se deslocar para acionar o botão a cada foto tirada. 




Quanto à animação em si, aconteceram algumas coisas engraçadas. Inicialmente, eu iria apenas dar um suporte a Diego, mas à medida que fui me aprofundando e entendendo o que o filme parecia pretender, me soltei a ponto de pensar em algumas ideias e planejamentos de cenas. Comentava-as com Diego, que aprovava com a cabeça e no segundo seguinte eu já estava diante da truca, animando o que pensara. Nossa visões, apesar de parecidas, se diferem bastante em muitos aspectos, como se pode observar ao longo do filme. Enquanto Diego prima pelo caos e inquietação em suas cenas, característica forte em seus trabalhos, eu me sinto mais à vontade animando padrões geométricos, ou de alguma maneira simétrica, criando oposições de cores ou formas. Ambas essas estéticas se completaram muito bem, de acordo com os momentos do filme, da música. 




A visão própria de cada animador engrandeceu o filme, gerando um harmonioso choque de pontos de vista

A técnica do stop motion consiste em se tirar foto após foto, movendo um pouco os objetos entre uma e outra imagem. Agrupadas, as imagens criam a ideia do movimento, e nasce a animação. É uma técnica fascinante, mas requer grande paciência e capacidade de improvisação. Paciência porque muitas vezes passamos horas e mais horas para produzir meros segundos animados. Improvisação para momentos onde não conseguimos fazer algo do jeito que imaginamos. Neste trabalho, cada objeto tinha sua peculiaridade, tínhamos que aprender como poderíamos animá-los, entendê-los. E mesmo assim, algumas cenas não ficavam bem como pensávamos. Felizmente, desses "erros" saiam também valorosas surpresas.













Um detalhe curioso, que surgiu sem muita preparação, foi o incrível efeito que obtivemos com as sombras dos objetos, acentuadas pelas luzes amareladas. Tivemos o cuidado apenas de equilibrar a iluminação, para que as sombras ficassem mais ou menos com o mesmo volume. Como resultado, toda a fotografia do filme se beneficiou deste aspecto.

Sombras e iluminação, detalhes que acabaram fazendo toda a diferença

A sanfona é também um outro trecho bastante interessante do filme, e da música. Diego já tinha pensando em como conduzi-la ainda desde quando pensava em usar os brinquedos, com lápis de cor e afins. Com a mudança no material usado, no momento que ele pegava algumas roupas para o filme, percebeu o curioso efeito que se fazia ao esticar o tecido. Nascia ali a sanfona! Foi uma sequência de certa dificuldade de execução, onde Diego teve que literalmente meter as mãos na massa, mas cujo resultado criou aquela que muitos consideraram a melhor cena do filme. O movimento cadenciado, quase uma dança, mostra toda a vivacidade que queríamos passar.




Para cobrir a duração da música, e também poupar algumas horas de trabalho, alguns planos foram repetidos, em momentos precisos, como um complemento adicional. O pouco tempo que tínhamos limitou um pouco a elaboração de novas sequências, e como tudo flui muito rápido, essas breves repetições acabam por criar alguma unidade. Ainda, muitas cenas tiveram de ser cortadas da versão final, por não se encaixarem devidamente no ritmo. É um processo difícil, porém necessário, esses pequenos cortes, muitas vezes de cenas que pareciam tão promissoras.



Como já disse, uma coisa muito bacana do Balada foi a liberdade que tivemos para animar, justamente por não haver um roteiro pré-estabelecido. Claro, tínhamos um pequeno planejamento das cenas, mas só com base nos frames que cada uma teria. O que aconteceria em cada uma era pensado na hora. Ouvir novamente a música era sempre um ótimo impulso criativo, para clarear as ideias. Além de mim, Diego e Josimário, contamos ainda com a participação de outros dois animadores: Clayton Bochecha e Maurício Nunes. Na verdade, Clayton inicialmente faria mais registros de bastidores, mas foi rapidamente contigiado pelo espírito do filme. Maurício veio à cidade para o Cine Cieará. Bastou uma breve passada na Casa Amarela, para Diego, convidativo, lhe dizer: "Não quer animar um pouquinho?" Ele riu, dizendo que já temia essa pergunta e no segundo seguinte já estava debruçado sobre a truca. 

Eu e Josimário Façanha, em uma das muitas sequências onde roupas e objetos se misturam

Clayton Bochecha e Diego Akel, em esforço mútuo para convencer os cintos a ficarem na posição adequada

Após uma semana intensa, produzindo e animando diariamente o filme, percebemos a loucura onde havíamos nos metido. O prazo limite do Anima Mundi já quase batia à nossa porta. Tínhamos feito muita coisa, claro, cerca de dois ou três minutos, mas ainda faltava uma fatia considerável. Mesmo que ficássemos os próximos dias direto animando, não daria tempo, uma vez que ainda teríamos pela frente todo o processo de edição do filme. Diego então recorre a perguntar se por acaso o festival vai adiar um pouco o prazo de inscrições, dizendo que algo em torno de uma semana seria ideal. E qual não foi nossa surpresa com a resposta: o prazo foi adiado em uma semana! Continuamos então, em ritmo acelerado, agora já perto da etapa final.




Nos últimas dias de produção na Casa Amarela, porém, já sentíamos o cansaço, que invariavelmente se acumulava dos dias anteriores. Já olhávamos para os objetos com certa repulsa, a criatividade parecia ter se esgotado, não sabíamos mais como conduzir as cenas. Os olhos, já pesavam, o corpo, de tanto ficar em pé, refletia em dores musculares o esforço empreendido. Bem exatamente no último dia, tudo isso se intensificou, a ponto de passarmos da hora na Casa Amarela (geralmente saíamos de lá às 17h). Dessa vez, tínhamos que ficar lá até terminar aquela parte do filme, a captação de imagens, pois no dia seguinte, já o último do prazo, seria dedicado à edição. 

Os planos finais do Balada trouxeram os sapatos como elemento novo. Foi muito divertido lidar com eles, e integrá-los ao que já tínhamos. Mas após alguns planos, não era fácil manter o fôlego. Diego sentou-se e me disse que estava difícil. Disse a ele que já estávamos quase lá, que já tínhamos feito muito, agora bastava um último esforço, e fui com passos decididos para a truca, onde comecei a tentar bolar outra cena. Diego, motivado, retomou em seguida, para fazer a cena final, que envolvia praticamente todos os objetos que usamos no filme, em uma salada de cores e formas, uma cena caótica que somente ele poderia fazer.






A cena final, que mostra o suposto guarda-roupa se fechando, e meio que engolindo tudo, foi pensada e feita um dia antes. Na realidade, usamos um pequeno baú, colocado de lado, para criar o efeito de guarda-roupa. Os detalhes na fechadura e entalhes na madeira ajudaram a criar uma composição, dando tanta força para a cena que a consideramos a melhor para fechar o filme, apesar de ser rápida e brusca, quase como se a ordem afinal se fizesse após o caos.

Com essa primeira parte terminada, Diego assumiu, literalmente sozinho, as etapas finais, de edição e finalização. Tratar as imagens, montá-las para compor as cenas, criar a relação com a música. Um processo que foi até divertido, uma vez que a partir dele víamos o filme realmente ganhar forma e corpo. Já a finalização, que englobava exportar o filme pronto, foi um parte complicada. Por ter grande variação de cores e texturas, o arquivo final ficava muito pesado, comprometendo o computador. O resultado disso foi que a qualidade de imagem sempre ficava um pouco abaixo do esperado. Diego lutou como pôde para criar uma versão com qualidade aceitável, que foi a que seria disponibilizada para o Anima Mundi (postada no Vimeo) e seria a versão usada para participar do Anima Multi, categoria do festival com filmes de internet.

Para deixar esse post ainda mais completo, pedi a Diego que escrevesse algumas breves linhas sobre o filme:

O Balada do Guarda-Roupa foi um filme que, ao mesmo tempo que saiu num estalar de dedos, teve um processo instintivo, solto mas ao mesmo tempo intenso e complexo. O filme é, acima de tudo, a prova viva pra mim de que temos que agir direto do nosso instinto, fazer as coisas do jeito que achamos que deve ser, e adaptar todo o nosso entorno a isso. Acreditar mesmo no que achamos certo.

Trabalhar com outras pessoas sempre é fantástico, e tenho aprendido mais a cada trabalho como os colaboradores podem agregar tanto a algo que inicialmente só existia na sua cabeça. Trabalhar com o Denis sempre é algo que flui naturalmente e nos diverte muito. Apesar de nos parecermos muito, nossa abordagem animando é bem diferente, e isso se complementa muito bem no filme, tanto que fizemos os dois a direção de animação, combinando realmente como os planos iriam fluir. Josimário e sua abordagem tranquila mas concentrada sempre é uma presença que traz muita segurança na hora da animação, com o seu apoio, atenção aos detalhes e facilidade de se adaptar instantaneamente ao processo, seja ele qual for. Tive ainda as presenças rápidas mas precisas de Clayton Bochecha e Maurício Nunes, que deram sua participação ao filme.

O filme, no fim das contas, fluiu de uma forma bem natural e foi feito em um espírito livre. Da melhor forma que muitas coisas podem ser feitas, como sempre conversamos Denis e eu: terminar antes de se dar conta que se começou. E penso ainda que não dá para teorizar nem fazer muito juízo sobre o filme antes ou durante o processo; melhor fazer primeiro e deixar isso pra depois, se é que nós vamos fazer algum julgamento. Talvez seja melhor deixar essa tarefa para os outros.


Tampamos parcialmente as luzes, para fazer o plano final do filme, criando a ilusão de que tudo realmente estava sendo guardado no 'guarda-roupa'.  



Em julho desse ano, Diego foi para o Rio, para acompanhar a vigésima edição do festival. O Anima Mundi celebrava vinte anos de existência. Diego, além de acompanhar a programação do evento, e rever os amigos, participaria ainda com o curta Maria da Glória (na categoria Galeria), além do Balada. Em casa, fiquei me interando dos demais filmes que concorriam no Anima Multi. Essa categoria consistia em filmes feitos para a internet. Uma vez selecionados, os filmes ficariam disponíveis para o público assistir e votar em seu favorito. Assisti a todos os outros, e vi muitos muito bem realizados, dignos de talvez ganharem a votação. Igualmente, havia também algumas produções meio limitadas e de certa forma mal finalizadas. Em todo caso, já era um prazer figurar entre os vinte selecionados, dentre todos os que foram enviados. Votei, comentei com amigos, divulguei nosso filme como podia, nesse grande emaranhado que são as redes socias, e a expectativa, à medida que o dia do resultado se aproximava, era grande, embora não quisesse alimentar grandes esperanças prematuras. Vejam os filmes que participaram do Anima Multi aqui.

Houve ainda a feliz supresa de eu também ir ao festival, no fimzinho de julho. Pude acompanhar os últimos dias do Anima Mundi 2012, além da cerimônia de premiação. Só que, no último dia, sem muita explicação, a divulgação dos ganhadores deste segmento do festival foi adiada. Como acontece todo ano, o Anima Mundi tem edições no Rio e em São Paulo. O resultado que esperávamos só seria divulgado no último dia de lá. Ficamos desapontados, mas não havia o que fazer. Diego, porém, decidiu esticar sua viagem, e foi para SP, em parte, somente para acompanhar o desfecho dessa situação. Voltei para casa, onde fiquei acompanhando o que acontecia por lá, e já começava a esboçar essa postagem. 

Balada do Guarda-Roupa acabou não ganhando prêmios. Claro, ficamos um pouco inconformados no início, mas depois percebemos que o filme já ganhara muita coisa, e que nós, sobretudo, fomos 'premiados' simplesmente por tê-lo feito em tão curto tempo. Desde a concepção da ideia, da produção em si, todas as etapas tiveram seus desafios. E ainda, sempre nossa maior motivação foi terminá-lo a tempo de enviar para o evento, ser ou não ser premiado seria apenas consequência. 

Todo o tempo que investimos nesse filme nos ensinou que é possível, sim, fazer coisas acontecerem sem muito planejamento, sem muito preparativo, quando se tem um ideal e determinação. Quantas não são as ideias e projetos que são interrompidos, por extensos e muitas vezes desnecessários planos? Como eu disse no início desse texto, procuramos fazer o filme sem pensar muito, agindo de maneira solta e livre, apesar, claro, de depois, na parte da edição, ser necessário um controle maior e mais rígido para melhor lapidar a versão final. 

A sensação de ver um filme finalizado é sempre gratificante. E se tratando de animação, talvez seja ainda mais. Ver cada cena que fizemos, com tanto esmero, reunidas, é algo indescritível. Ainda que tudo passe incrivelmente rápido, e muitos detalhes sequer sejam vistos ou assimilados, sentimos cada cena, em cada transição, em cada  frame, ao lembrar de como foi fazê-lo para que ficasse daquele jeito. Com igual força, também vem à cabeça coisas como "Nossa, conseguimos mesmo!" ou "Puxa, fizemos mesmo isso!". Isso tudo talvez nos faça pensar que muitas vezes nós mesmos não acreditamos no que podemos fazer, e é justamente aí que talvez esteja nossa maior limitação.

E para finalizar, o filme concluído: