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"O coração que se ganha é o que se dá em troca"Marcelino Freire



quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Livro: De Gênio e Louco todo mundo tem um pouco


Fotos: Diego Akel

Já ouço falar no nome de Augusto Cury há tempos, embora nunca tivesse lido nenhuma de suas obras. Até então, tudo o que sabia, a grosso modo, é que era um autor de livros de grande sucesso, com não sei quantos milhões de vendas. Livros que pareciam ter um certo estilo de auto-ajuda. Foi ainda com algumas dessas ideias que ganhei o livro que ilustra essa postagem de uma amiga.

Claro que também já conhecia o difundido O Vendedor de Sonhos, título que sempre me intrigava bastante (como é possível alguém vender sonhos?), mas apenas por ouvir falar, nunca chegara a folheá-lo propriamente. Quando me vi diante de De Gênio e Louco todo mundo tem um pouco, percebi que a saga era mais vasta do que podia imaginar, composta de vários livros. Bom, eu já estava praticamente decidido a embarcar em outro livro (O exército de um homem só, de Moacyr Scliar), quando o livro de Cury chegou às minhas mãos, como um convite a um território desconhecido. Assim, e também para me integrar logo ao presente recebido, resolvi então me aventurar logo por suas páginas.

Devo ter passado quase 4 meses e meio a bordo desta obra (sim, costumo ler sem muita pressa, assimilando bem e marcando as passagens interessantes do texto, isso, aliás, é um bom tema para uma postagem futura), e ao final fiquei bastante surpreso com sua essência.

A trama-chave do livro fala sobre desigualdade social, expressada vivamente na vida dos personagens centrais. Fiquei bastante curioso à medida que acompanhava o desenlace dos capítulos, que iam aos poucos moldando e explicando o caráter de cada um. Os protagonistas da obra, Bartolomeu e Barnabé, apelidados convenientemente de Boquinha e Prefeito, têm histórias distintas, mas que quase se entrelaçam pelas semelhanças. É tocante e de certa forma angustiante ver os inúmeros percalços e infortúnios pelos quais esses dois passaram na vida, desde a infância. Mas mesmo com tantas provoções, ambos seguiram levando sua vida com um sorriso no rosto. Eram constantemente forçados a reiventar suas realidades.

É divertido acompanhar o desempenho de Boquinha, que se acha um grande filósofo, com uma desmedida compulsão por falar, mas se mete nas confusões mais improváveis, por conta de sua língua afiada. Já o Prefeito foi assim apelidado por sua mania de se achar político. Volta e meia, faz discursos, pede votos, seja qual for a situação. Tanto Boquinha como o Prefeito são gênios e loucos, literalmente. Altamente criativos e visionários, mas completamente desmedidos e desorientados. Parecem viver em outro mundo. A vida de ambos muda drasticamente quando se vêem diante do Vendedor de Sonhos, uma figura misteriosa que os convoca a tentar mudar uma realidade da qual eles próprios foram vítimas.

Uma ideia bacana do livro é a de que todos se esforçam para serem normais, mas não seria a dita normalidade uma grande loucura? Então, os loucos é que seriam os normais? Por isso a barreira entre a genialidade e a loucura se mostra tão tênue, podendo serem aplicadas a qualquer um. Recheado ainda com várias referências a grandes pensadores e cientistas, como Einstein, que é considerado, nas palavras do livro, o modelo ideal de intelectual, meio músico, meio palhaço, meio "louco".

Tal como é a reviravolta na vida dos personagens, é o clima do livro, ora mergulhado em grande tristeza e depressão, ora abraçado por alegria e espontaneidade. Bem dosados, estes ingredientes moldaram um romance bastante sólido que equilibra muito bem filosofia, sociologia e psicologia. E sendo Cury também psiquiatra e psicoterapeuta, em alguns momentos parece quase que estamos recebendo uma consulta instantânea.

Um detalhe de que gostei bastante foi o uso de uma linguagem fácil e acessível, que prefere períodos curtos e simples, mas efetivamente incisivos. A narrativa toda é bastante direta, sem floreios. Há também bem pouca descrição, o que nos faz buscar uma imagem mais geral dos fatos, e de certa forma aproxima o livro da realidade – essa realidade tão desigual que ele repudia e tenta nos incitar a fazer o mesmo.

Após ler este livro, além do fecundo ideal por ele transmitido, fiquei com grande vontade de conhecer os demais exemplares da saga O Vendedor de Sonhos; uma saga que consegue cativar facilmente, que mostra um caminho o qual talvez não conseguíssemos ver, mas que está ficando cada vez mais nítido. Quem ainda nada conhece da obra de Cury, pode ficar certo de que vale muito a pena passar um tempinho viajando nesse divertido e contundente romance que é De Gênio e Louco todo mundo tem um pouco.

Ah, antes de finalizar, quero transcrever aqui talvez o trecho mais marcante de todo livro, que reflete praticamente toda a sua essência. Trata-se de uma musiquinha, o lema de Boquinha e Prefeito, que eles cantavam sempre que podiam e que fascinava tantos e incomodava muitos:

Você acorda, levanta, reclama e faz tudo igual
Luta para ser aceito, notado e sair no jornal
Corre atrás do vento como uma máquina imortal
Morre sem curtir a vida e jura ser uma pessoa normal

Olha para mim e me diz com ironia social
Eis aí um maluco, um sujeito anormal
Sim, mas não vivo como você, em liberdade condicional
Sou o que sou, uma mente livre, um louco genial



Se um dia tiverem a chance, leiam!

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