Frases


"O coração que se ganha é o que se dá em troca"Marcelino Freire



quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

II Feira do Livro de Fortaleza - Walcyr Carrasco (I)

Foto: Divulgação do evento

Recentemente, postei aqui alguns comentários sobre a passada do escritor e contador de histórias Ilan Brenman aqui em Fortaleza, em ocasião da II Feira do Livro Infantil (veja aqui). Agora, falarei um pouco sobre talvez o maior destaque desta edição do evento, a presença do escritor e autor Walcyr Carrasco. Nesse post, dividido em duas partes, procurei colocar uma visão geral de como foi a apresentação, sob meu ponto de vista.

Walcyr sem dúvida foi uma alavanca de formidável impulso para levar à Praça do Ferreira um excelente público, para um evento literário em ascensão; cerca de 150 pessoas somente em sua apresentação. Eu mesmo, inclusive, fui motivado a ir conhecê-lo. Admiro muito o seu trabalho, não somente na área de teledramaturgia, onde talvez seja mais conhecimento e amplamente divulgado, mas também na literária; Walcyr Carrasco tem uma sólida carreira como escritor, com diversos livros publicados, destacando-se os infantis, mas também com infanto-juvenis e romances, além de traduções, adaptações e peças de teatro.

Um de meus livros favoritos e, devo dizer, fundamentais para minha escolha por trilhar também o caminho das letras é da autoria de Walcyr. Trata-se de O Caçador de Palavras, um livrinho pequeno e pouco conhecido, que atualmente já não é editado. Mesmo assim, muitos devem lembrar dele por ter vindo junto com o dicionário LUFT, da editora Ática, em meados de 1993. É uma história curta, breve, mas que transmite um ideal tão vasto que até hoje me influencia. Enfim, falarei mais sobre este livrinho em uma postagem exclusiva, ainda por vir.

Voltando ao assunto central, Walcyr Carrasco fecharia a II Feira do Livro Infantil com chave de ouro. Sua participação estava marcada para o sábado, 17 de setembro. Na ocasião, Walcyr daria uma palestra sobre sua obra e carreira e ainda concederia uma sessão de autógrafos. Seria bem parecido como foi com Ilan Brenman, com a diferença massiva estando por conta da quantidade de público presente.

Marcada para as 15:00, me programei para evitar atrasos, saindo com certa antecedência, sem esquecer, é claro, de levar O Caçador de Palavras comigo; faria questão que Walcyr o autografasse. Sabia que a movimentação lá seria intensa e queria também um bom lugar para sentar, assim, cheguei à Praça do Ferreira por volta das 14:45. Quase não acreditei quando olhei para a tenda central: estava praticamente lotada. Dezenas e dezenas de crianças, fardadas, provavelmente de escolas, enchiam as muitas cadeiras que tinham sido dispostas, em meio ao mini palco onde ficavam os palestrantes. Além delas, havia também um enorme público geral, compondo os locais restantes e também curiosos nas imediações da tenda. Àquela hora, já era impossível pegar um lugar à frente; tive de me conformar em sentar bem atrás. Uma vez acomodado, comecei a olhar novamente em volta, observando o tipo de público que ali estava. Fazia um calor imensurável nesse momento, mesmo a tenda sendo ao ar livre (ou talvez justamente por isso).

Foto: Denis Akel

Pouco antes da hora marcada, o responsável pela locução do evento subiu ao mini palco e avisou, com voz entusiasmada, que Walcyr logo entraria. Somente essa declaração já foi suficiente para levar todos ao delírio, em sonoros gritos de euforia. E então, pontualmente às 15:00, avistei Walcyr Carrasco chegando à tenda. Trazia à cabeça uma espécie de chapéu-panamá (que depois revelaria ter ganhado já na cidade). Sua roupa, de algum modo leve e simples, transmitia segurança e tranquilidade. À aparição do autor, o público explodiu em fervorosos aplausos, juntamente com gritos e exaltação. Foi bom ver toda aquela comoção em torno de um escritor, embora soubesse que talvez a maior parte daquele estardalhaço se devesse não à sua obra literária, mas às suas novelas. Eu esperava até o final da palestra poder mudar de opinião.

Um outro detalhe que não pude deixar de notar, enquanto corria os olhos em volta, observando as pessoas, foi a forte presença de seguranças. E não pareciam seguranças comuns. Cogitei até a possibilidade de ser uma equipe especial do próprio Walcyr, já acostumada a protegê-lo. Farda escura, boina vermelha, rosto impassível. Num detalhe na manga do braço, os dizeres "defesa pessoal" podiam ser lidos. Pareciam saídos de um desses filmes de assaltos milionários.

Após receber o microfone e tomar a frente do público, Walcyr, sorridente, saudou a todos, dizendo o quão feliz estava por estar ali. Inicialmente, ele quis ler um poema de que muito gostava, de autoria de Mario Quintana. Walcyr bem que tentou, mas a plateia não facilitou; vozerios e balburdia iam se manifestando, complicando o andamento da apresentação. Além disso, graças ao microfone, que parecia estar com algum problema (não demorou a ser substituído), sua leitura começou quase inaudível. Percebendo a dificuldade repentina do público, Walcyr alertou, sério, que se todos não fizessem silêncio, ele iria embora. Pronto, bastou isso. Como num passe de mágica, as professoras das crianças, que eram as principais responsáveis pelo caos sonoro, se fizeram ouvir e buscaram conter os pequenos. Walcyr prosseguiu lendo Quintana, mas continuei ouvindo apenas palavras perdidas. Longe do palco, só ouvia uma palavra ou outra dele, espaçada – agora pelos murmúrios – do mar de crianças que estavam à minha frente.

Foto: Denis Akel

Em seguida, falou um pouco de sua carreira, de suas referências. Contou que seu gosto pela leitura veio da infância (em uma época em que sequer havia TV), através das clássicas obras de Monteiro Lobato, e que sua aptidão à escrita veio naturalmente por conta disso, por volta dos 12 anos de idade, quando começou a se descobrir escritor. Walcyr se encantou pelo Saci, Pedrinho, Emília, a ponto de decidir também querer escrever suas histórias. Daí em diante, para realizar seu intento, passou a ler muito, como deve ser o hábito de todo escritor. Apontou os contos de fadas como um de seus gêneros favoritos, citando a obra de Hans Christian Andersen, célebre por O Patinho Feio, A Pequena Sereia, entre outros. Falou ainda de nomes como Shakespeare, que ele muito admira e até traduz, a Júlio Verne, e de como gosta de fazer referências sutis a eles em suas obras. Ressaltou ainda o quão visionário Verne foi, ao escrever 20.000 Léguas Submarinas em uma época onde não existiam submarinos. Ainda sobre o ato e gosto pela leitura, enfatizou que o conceito de gostar ou não gostar de algo é muito relativo, pois pode-se muito bem aprender a gostar ou aprender a não gostar, seja lá do que se tratar.

Foto: Denis Akel


Seguindo-se a esta breve introdução, duas pessoas, cujos nomes ou cargos não me recordo, mas que certamente haveriam de ser pessoas de peso no evento (talvez até alguém de importância na cidade), foram chamadas ao centro da tenda, onde leriam alguns trechos de livros do Walcyr. Durante a leitura de seus textos, Walcyr Carrasco manteve-se sentado, ao lado da pessoa que lia. Percebi que ele vagueava o olhar pela plateia, como se buscasse conhecer melhor seu público, mas sem se distrair do que era lido. Porém, notei que a fatia do público que prestava atenção era muito pequena. Eu mesmo não conseguia acompanhar direito alguns trechos. Achei que os textos escolhidos foram demasiados longos, o que pareceu enfadar rapidamente boa parte do público, que, disperso, fazia barulho e atrapalhava quem queria ouvir e estava mais longe do palco, como eu.

Não lembro exatamente se foi nesse momento, ou mais no início, mas Walcyr ainda ganhou um livro de presente de uma pessoa do público, que fez questão de deixar claro que o livro só seria colocado à venda ano que vem, e que aquele exemplar era exclusivamente para ele. Walcyr, surpreso e admirado, mostrou o livro ao público, repetindo o que ela disse.

Findadas as leituras, o público respondeu com aplausos. Walcyr Carrasco continuou, então, tornando a falar, agora mais detalhadamente, de sua carreira, projetos e trabalhos. Ele esbanjava simpatia, usando seu chapéu-panamá que – como revelou depois – ganhara na ocasião, mas que lhe caiu perfeitamente; parecia quase feito para ele.  Walcyr falou que inicialmente escrevia para jornais e revistas (Revista Recreio) e que aos poucos foram lhe aparecendo oportunidades de escrever para teatro e TV. Disse ainda que chegou à Globo com muito trabalho e dedicação, e que isso já fazia dez anos. Mesmo com uma vasta liberdade de produção na TV, adora escrever livros para o público infantil, pois vê nessas histórias muito mais do que elas aparentam representar.

Foto: Denis Akel


Passada a introdução de Walcyr, a leitura de seus textos e do poema de Quintana, teve-se início o bloco de perguntas. Um microfone foi sendo conduzido a uma das muitas mãos que sempre se arguiam; todos buscavam  poder dirigir algumas palavras ao escritor. Uma das primeiras perguntas a surgir foi quanto à sua rotina de trabalho, em que hora ele costumava escrever. A isso Walcyr Carrasco respondeu de imediato, com ar brincalhão, arrancando sonoros risos de todos: "Sou um vampiro!". Com isso, quis dizer, como explicou em seguida, que tinha hábitos notívagos. Disse que usualmente começava a escrever às 23:00, indo até as 3 ou 4 da manhã (quem o conhece do Twitter sabe que é mais ou menos nesse horário que ele vai fumar seu charuto e meditar!).

Como não poderia deixar de ser, Walcyr foi fustigado com várias perguntas referentes à sua novela Morde & Assopra, ainda em exibição na época. Foram realmente muitas perguntas, desde as mais inocentes, como crianças que realmente acreditavam que havia um rôbo vivendo o personagem da Naomi Rôbo, a outras mais extravagantes, como: "Como você fez a cena onde o rôbo remove parte de sua pele artificial e exibe seus componentes eletrônicos?" Walcyr, direto, respondeu à primeira dizendo que era a atriz que fazia as duas personagens, que era mérito dela a "versão rôbo"ficar tão autêntica. Quanto à segunda pergunta, disse categoricamente que não foi ele quem fez a cena mencionada, e completou sua resposta, dando a todos um breve panorama de como funciona o andamento de uma novela, da concepção da cena à sua filmagem. Walcyr disse que ele somente escrevia. Em seguida, o produtor irá negociar detalhes que envolvem a cena (locações, etc) e o diretor a dirige. Citou ainda um exemplo, usando uma praia daqui de Fortaleza como ambiente. Ele escreveria o que iria ocorrer, o produtor entrava em contato com a prefeitura da cidade, para negociar detalhes da locação, e o diretor executava a direção. Em termos, foi bem claro ao dizer que poderia escrever praticamente o que quisesse e o produtor teria que se virar para conseguir realizá-la, o que arrancou mais boas risadas do público. Ainda sobre o tema de produção, alguém perguntou quem escolhe o elenco de suas novelas, e se a opinião dele é unânime. Walcyr respondeu, sucinto, que é 50% ele, 50% a emissora/equipe.

Tivemos também algumas perguntas bem incomuns, que geraram respostas bem contundentes. Em dado momento, Walcyr foi indagado sobre quais alguns de seus momentos felizes e tristes. Respondeu dizendo que tenta não ter momentos tristes; tenta sempre enxergar o lado bom que há em tudo. Completou dizendo que embora muitas vezes não consigamos fazer essa distinção, é um bom caminho para sofrermos bem menos.

Outra pergunta, ainda sobre Morde, foi referente ao desfecho de alguns personagens. Walcyr riu-se, e de certa forma insinuou, mas acabou não revelando nada, deixando suspense e ansiedade no público que assistia à novela. E sem deixar o assunto novelas de lado, um menino quis saber se o macaco pintor de Caras & Bocas, trama que repercutiu bastante em 2009, realmente pintava. Walcyr contou uma história sobre um macaco nos EUA, que nos anos 30, 40, ficou muito famosos por pintar, tendo inclusive vendido muitas telas. O macaco de sua novela (na verdade uma macaca) gostava muito de desenhar, mas não pintava.

Encerradas as perguntas, o público prorrompeu em um forte e prolongado aplauso. Walcyr Carrasco sorria, no centro de todos. Mas aquele momento ainda não terminaria: teríamos ainda a sessão de autógrafos. O narrador do evento assumiu o microfone  e começou a organizá-la. E é a partir de lá que começa a segunda parte dessa postagem, em breve no ar!

E para finalizar, alguns trechos que consegui captar da palestra. A qualidade não é das melhores, mas todo registro é válido. :)

Veja a segunda parte aqui.








quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Bicicleta animada!



Em plena era digital, eis que ainda vemos ideias surpreendentes, com ferramentas simples, que esbanjam criatividade, determinação e muitas vezes se sobressaem a grandes instalações e parafernálias! É o caso deste curioso e peculiar trabalho. Através da interessante e quase inusitada combinação de papel com rodas de bicicleta, a estudante inglesa Katy Beveridge criou uma espécie de zootrópio (instrumento giratório que produz, a partir de imagens paradas, a ilusão do movimento. Mais sobre zootrópio neste post).

Essa técnica, no entanto, precisa ser filmada para ser percebida. A olho nu, só conseguimos vislumbrar borrões, devido à velocidade da roda. Um detalhe que achei um dos grandes destaques do trabalho de Katy são os belíssimos padrões e formas; composições criadas a partir do papel recortado (quanto esmero nesses recortes!). É um verdadeiro deleite visual, que inclusive lembra um pouco a obra do grande animador francês Michel Ocelot!

Vejam:





E abaixo alguns testes para se chegar a esse resultado:








Sensacional, não é? Imaginem as possibilidades dessa técnica! É como dizem, é possível se fazer animação com praticamente qualquer coisa!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

II Feira do Livro de Fortaleza - Ilan Brenman



Em setembro, aconteceu aqui em Fortaleza a segunda edição da Feira do Livro Infantil, evento que busca alimentar a fome pelo livro e leitura, com oficinas, shows, contação de histórias, palestras, além da presença de grandes nomes do cenário, como o compositor e escritor gaúcho Vitor Ramil e o escritor e autor Walcyr Carrasco, grande destaque da feira.

Quando soube do evento, apressei-me para ficar por dentro da programação, que era divulgada na TV em rápidas chamadas. Até então, meu maior interesse na feira era a palestra de Walcyr Carrasco. Não exatamente pelo seu trabalho nas telenovelas, onde é largamente conhecido, mas por ele ser autor de um dos livros que me despontou a gostar de escrever e querer ser escritor. Falarei mais desse assunto no post exclusivo sobre Walcyr, que colocarei aqui em breve.

Aconteceu que um dia antes de começar a feira, estava eu aqui no computador, baixando edições do programa Entrelinhas, para meu acervo, e à medida que baixava, assistia a um trechinho para ver se estava tudo bem. Foi aí que vi essa entrevista do Ilan Brenman, que de cara já me chamou a atenção pela simpatia e jeito de falar. Era um contador de histórias que resolvera se aventurar fazendo livros. Assistir a um trechinho? Cativado pelas palavras de Brenman, acabei assistindo à entrevista inteira, que fluiu incrivelmente rápida! Fiquei maravilhado, inspirado.



E imaginem a minha surpresa quando vi o nome de Ilan Brenman entre os convidados e palestrantes da Feira! Que incrível coincidência! Foi tudo tão repentino que o dia em que vi a entrevista, seria justamente o dia de sua apresentação, e também o primeiro dia da feira. Assim, apressei-me para a Praça do Ferreira, que seria palco de todas as atrações. Acabei chegando um pouco depois do horário previsto (15h) mas a palestra atrasaria. Aproveitei esse meio tempo para me familiarizar ao local.

Algumas tendas haviam sido montadas em pontos da praça. Em uma delas, de vasta extensão, vários expositores de editoras estavam espalhados. Ali seria possível comprar livros ou simplesmente conhecer as novidades das editoras presentes. Mais ao centro da praça, estava a tenda principal, uma enorme lona que lembrava quase um circo, sob a qual dezenas de cadeiras se encontravam agrupadas. Seria o palco dos principais eventos e palestras da feira.

Conforme circulei pelos ambientes, percebi que a maior parte do público presente era – como não poderia deixar de ser – formado por crianças, e muitas de escolas, em visitação à feira. Já os bancos da Praça do Ferreira, estavam cheios das pessoas do dia-a-dia, que não pareciam ligar nem um pouco para tudo aquilo, e apenas se contentavam em sentar ali e ver a vida passar.

Antes de tomar um lugar sob a tenda central, procurei uma pessoa da organização, para saber se Ilan Brenman estava mesmo confirmado. Após ter essa confirmação, vi que já passava das 15:30. Notei também que já havia algumas crianças à espera, espalhadas pelas muitas cadeiras. Ilan chegou poucos minutos depois e a disposição da plateia foi arranjada, para que todos ficassem mais perto do contador de histórias. Era engraçado, pois nesse momento percebi que estava sentando quase junto às inúmeras crianças das escolas. Havendo ainda muitos lugares vazios, desloquei-me a um deles.

Ilan Brenman iniciou sua palestra com sua característica oratória, cheia de trejeitos e atrativos, própria dos contadores de história. Antes de mais nada, contou um pouco de sua própria história, que há muitos anos viajava pelo Brasil contando histórias, e que há não muito tempo resolveu também lançar livros. Ele aproveitou também para já contar uma história de seu repertório ao público, que garantiu a atenção, empolgou e divertiu a todos. Só um detalhe aqui me deixou boquiaberto: foi servido um lanche às crianças (suco em caixinha e biscoitos). Elas pareciam mesmo muito atentas à história, mas não muito à educação, pois só o que se viu depois foram as caixinhas e embalagens jogadas no chão. Acho que faltou pulso dos professores, num ato simples de trazer uma lixeira para junto das crianças.

A palestra continuou com Ilan mostrando alguns de seus livros: o inovador Telefone sem fio (somente de imagens), e o descontraído Até as Princesas soltam pum. Mostrou ainda o inédito Papai é meu, que seria lançado na ocasião. Ele explicou ainda a origem da ideia por trás de cada obra, de uma maneira bem característica, e "leu" brevemente cada uma, dando a todos uma prévia dos livros. Poucas pessoas no público se interessavam em tirar fotos da apresentação. Fui uma delas, munido com meu celular, mas como estava longe do palco, as fotos não ficaram lá essas coisas, embora não deixem de ser um bom registro.



Por falar em fotos, havia por lá ainda um fotógrafo oficial do evento, que volta e meia tomava uma posição estratégica da arena para fazer fotos. Pois uma dessas posições o levou momentaneamente ao meio do palco. Para evitar atrapalhar a plateia, o fotógrafo se abaixou. Até aqui nada de incomum, mas eis que bem quando ele se levantou, surgiu uma pessoa – do público, acho – e começou a perguntar algo a ele. Ambos, dessa vez, ficaram bem na frente de boa parte da plateia, inclusive na minha. É claro que incomodou, pois cortou por alguns instantes a sintonia que tínhamos ouvindo as palavras de Ilan. Ele, inclusive, percebendo aquela situação inoportuna, não perdeu a compostura e teceu logo uma pequena mas feroz indireta contra os dois. Não lembro exatamente o que foi falado, mas foi algo sobre falta de educação com aqueles que queriam ouvir a história. Comentou ainda com sua colega, Rosana Mont'Alverne, contadora de histórias que também participaria do evento, que também o assistia, que aquilo fazia parte do trabalho deles, ao que Rosana concordou com a cabeça. O fotógrafo e a pessoa trataram de se retirar logo depois, e Ilan pôde continuar sua apresentação.

Nos momentos finais, ele mostrou ainda alguns outros livros de sua autoria. Uma coleção de livrinhos de bolso, intitulada Contador de Histórias de Bolso. Aqueles livrinhos, nas mãos de Ilan, que os erguiam no ar, aos olhos de todos, chamaram minha atenção de imediato. Tratavam-se de coletâneas de histórias recolhidas e recontadas por ele, em volumes ricamente ilustrados pelo talentoso ilustrador Fernando Vilela. As capas, com cores fortes, contrastantes e chamativas; os temas (Grécia, Rússia, África, China e Brasil) pareciam uns mais curiosos que os outros. Ali eu já sabia que teria de comprar algum deles, sem dúvida.

 Público, já nos intantes finais da apresentação
                                           
Ilan Brenman foi bem aplaudido ao fim de sua palestra. Foi dito então que ele seguiria direto para o estande da Editora Moderna, onde daria autógrafos aos interessados. Achei que aquela seria uma ótima oportunidade para conhecê-lo e trocar algumas palavras. Falar como o tinha 'descoberto', algumas horas antes, no Entrelinhas. Sim, sem dúvida seria interessante esse contato. Esperei próximo ao estande da editora, mas não vi sinal de Ilan. Depois, ele apareceu. Imaginei que haveria uma mesinha ou algo parecido onde ele ficaria para dar os autógrafos, mas não teve nada disso. Não parecia também haver gente querendo autógrafos. Ilan estava de pé, e parecia apressado. Esperei. Ainda achava que ele ia sentar-se para receber quem porventura aparecesse. Dali um tempo, desviei momentaneamente a atenção a outro estande, por minutos e quando tornei, Ilan tinha desaparecido.

Meu primeiro pensamento foi: "Ele deve ter ido tomar uma água ou algo parecido". Percebendo que Ilan não voltava, fui falar com o pessoal do estande. Disseram, afinal, que ele já tinha ido embora. Quando mencionei os autógrafos, afirmaram que Ilan tinha ficado lá, autografando, mas não acreditei muito nisso, a menos que tivesse sido apenas um autógrafo e somente para uma pessoa. Quando voltei a andar pela feira, comprovei com um dos receptivos que ele de fato quase não demorara.

Lamentei muito não ter conseguido falar com ele. Até poderia tê-lo indagado na hora que o vi, mas achei que ele teria o mínimo de estrutura para dar seus autógrafos, que eu não precisaria lhe falar assim, de sopetão, uma vez que estava certo de que este momento duraria pelo menos alguns minutos. Não foi assim. Ilan devia estar com pressa. Após repensar essa situação algumas vezes, voltei ao estande da editora Moderna e pedi para ver a coleção de bolso que tanto me chamara a atenção. Estava decido a comprar, não todos, mas pelo menos dois. Mesmo sem autógrafo ou conversa com Ilan, seria um boa oportunidade de adquirir estas obras, que até então não tinha visto nas livrarias. Após rápida análise nos cinco volumes, optei por Rússia e Grécia, temas que ultimamente vêm me fascinado.




Comprados os livros, rodei mais um pouco pela feira, até voltar para casa, satisfeito por pelo menos ter assistido à apresentação de Ilan Brenman, a quem, há poucas horas atrás, eu sequer sabia quem era. Perdera a oportunidade do autógrafo, é verdade, mas isso era o que menos importava, e não se repetiria no dia da palestra de Walcyr Carrasco, que será tema de uma próxima postagem!


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

III Semana da Animação – DIA 2011



E hoje é o DIA! O Dia Internacional da Animação, evento tradicional que reúne mostras de curtas nacionais e internacionais, acontecendo simultaneamente em muitas cidades, chega à sua oitava edição.

Aqui em Fortaleza, as mostras do DIA serão exibidas no encerramento da III Semana da Animação, evento que desde a última terça (25) tem "animado" a cidade! Já dei boas informações sobre a Semana aqui no blog, mas nunca é demais recomendar uma visita no blog oficial, onde há a programação e informações completas.

Quem puder vir (Casa Amarela Eusélio Oliveira, na Av. da Universidade) não deixe de aparecer para assistir a animações de qualidade e bater um papo descontraído com os coordenadores da III Semana! Teremos pipoca gratuita para as mostras!

E um ótimo DIA a todos!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

III Semana da Animação – A todo o vapor!



Hoje foi o terceiro dia de nosso evento, que está trazendo animação de qualidade para Fortaleza, além de uma vasta programação com oficinas e seminários. Mas tudo isso já devo ter falado antes, é verdade!

Bom, durante este evento, tenho me dedicado praticamente em tempo integral a ajudar meu irmão Diego, em boa parte dos processos e registros. Têm sido dias cansativos, longos e caóticos até, mas reconfortantes, quando vemos o resultado de tanta determinação em levar a Semana da Animação adiante. O retorno do público é animador! Todo o pessoal do NUCA – Núcleo de Cinema de Animação Casa Amarela Eusélio Oliveira, que também faz o evento, está de parabéns.

Esta imagem acima mostra exatamente como têm sido estes dias para mim. Venho colaborando, entre outras coisas, com os textos do blog da Semana, além de manter informações em tempo real pelo twitter, a medida que as atividades vão ocorrendo. Em breve trarei para cá postagens mais detalhadas, sobre todos os dias do evento. Já há várias páginas anotadas em meu bloquinho sobre a III Semana e também sobre a edição do ano passado, que já queria ter feito há tempos, como falei também em outro post recente.

E amanhã é o último dia da III Semana! Quem for de Fortaleza, não perca essa chance! A programação é inteiramente gratuita. Não deixe também de acompanhar as últimas notícias do evento no blog oficial do mesmo!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

III Semana da Animação – Vinheta!





Amigos, já está no ar a vinheta da III Semana da Animação! Meu irmão, Diego Akel, mais uma vez mergulha de cabeça no projeto, e além de coordenar o evento, ele fez esta bela vinheta em tempo recorde!

As três cores, azul, verde e azul, referência das cores aditivas, ou RGB, são a base da imagem em vídeo. O olho demonstra amplitude, atenção e audiência. É como se todos estivessem literalmente respirando imagens no período do evento, o que aliás é um dos objetivos do mesmo!

Um trabalho com um certo ar minimalista, mas sem deixar o tom caótico e inquieto sempre presente nos trabalhos de Diego!

E vamos que vamos! A III Semana começou ontem, com um grande público na Casa Amarela, aqui em Fortaleza. Em breve postarei mais detalhes do evento aqui.

Também estou fazendo postagens especiais no blog oficial do evento, não deixem de dar uma olhada!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

III Semana da Animação!



Começa amanhã (25), aqui em Fortaleza, a 3ª edição da Semana da Animação, evento que desde 2009 visa impulsionar e valorizar o cinema de animação autoral, dando ênfase ao trabalho de artistas locais, mas também reunindo obras internacionais, em mostras e sessões especiais. O NUCA – Núcleo de Cinema de Animação Casa Amarela Eusélio Oliveira, mais uma vez será o palco principal das atividades.

A Semana da Animação traz ainda oficinas e seminários, este ano focados em técnicas como o versátil Flipbook até o 3D digital.  Finalizando a programação, teremos ainda a mostra do DIA (Dia Internacional da Animação).

Meu irmão Diego Akel, juntamente com Telmo Carvalho, do NUCA, estão novamente à frente com a organização geral do evento. 

Mais uma vez, também, terei o prazer de colaborar com atualizações no blog do evento. Por falar nisso, fiquei de postar aqui uma breve retrospectiva da II Semana, do ano passado. Devido a alguns contratempos, ainda não foi possível, mas, aproveitando a deixa da vindoura edição 2011, darei um jeito de apressar as coisas, e logo mais tudo estará aqui. Por enquanto, vejam algumas das fotos das edições passadas, de 2010, e também de 2009, que marcou a estreia do evento, aqui.

É isso, se puderem, não deixem de comparecer para conferir nossa programação, que será inteiramente gratuita! Nos vemos lá!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Livro: Bartleby, o escriturário


Fotos: Diego e Denis Akel

Já estava praticamente decidido a finalmente ler O exército de um homem só, de Moacyr Scliar – um livro que há tempos está na minha mira – mas quando estava procurando por ele na estante, dei com este outro livrinho, que já tinha comprado há tempos, na esperança de lê-lo num futuro não muito distante. Como se trata de um livro fininho, e com um mote que tinha tudo que me atraía, resolvi ceder-lhe a vez na leitura.

O que mais me chamou para comprar esse livrinho não foi o fato de ele ser de autoria de Herman Melville, autor do clássico Moby Dick (pelo menos não a princípio). A pequena e breve sinopse contida nas costas dele, sim. Claro que geralmente as palavras contidas nesta parte são justamente com este fim, de fisgar o leitor, mas elas exerceram em um fascínio maior, instantâneo, quase como se tivessem sido escritas para mim, se é que me entendem, por tratar-se de um tema realmente inesperado e absurdo, bem ao estilo que gosto de compor minhas histórias, quando escrevo.

A ideia geral é bem simples, a princípio. Um sujeito que trabalha em um escritório, subitamente, passa a se recusar a trabalhar, contrariando seu chefe. É justamente essa simplicidade que coroa a complexidade da obra.

Narrado viva e realisticamente pelo próprio chefe, que detém um pequeno escritório na Wall Street, a história foca Bartleby, que havia sido contratado como auxiliar de escritório, para ajudar nas cópias e revisões de documentos, ou seja, trabalhar como escriturário. É interessante observar como o dono do escritório é bastante arguto e observador, gostando de traçar perfis de seus funcionários, com um certo ar de superioridade. Porém, se vê desarmado e quase incomodado diante de Bartleby.

Bartleby mostra-se, a princípio, extremamente produtivo, um exemplo de funcionário. Até que certo dia vem a bomba, quando, sem qualquer explicação, ousa responder às ordens de seu chefe com um surpreendente "Prefiro não fazer". É a partir daqui que temos uma reviravolta, em todos os aspectos. O dono do escritório se vê desorientado diante daquela situação. Como reagir àquela inesperada insubordinação? O mais curioso é que Bartleby nunca é mal-educado ou rude. Mesmo recusando-se a trabalhar, ele mantém a calma e frieza. E é bem isso que o torna insuportável.

Cada vez mais, esse comportamento incomum vai perturbando e quase fascinando o dono do escritório, que passa a observar Bartebly continuamente. Tudo nele parece estranho. Trata-se de uma pessoa, aparentemente, sem passado, sem família e, de certa forma, quase sem vida.

Seu patrão, claro, poderia demiti-lo de imediato, e por fim àquela estranha situação, correto? Mas será que ele pode mesmo fazê-lo? Temos aqui vários questionamentos e reflexões referentes à ética, culpa, fragilidade e inocência. Se demitisse Bartleby, não estaria sendo injusto? Quem sabe aquilo fosse apenas uma fase ou algo parecido? E se nunca mais o coitado tivesse uma oportunidade na vida? Pensamentos parecidos povoam a mente do dono do escritório, que vê sua vida tomada por esse repentino, silencioso e enigmático peso, que Bartleby passou a se tornar. Representado ainda como uma figura apática, magra e quase inexpressiva (o que faz nutrir justamente esse sentimento de pena e culpa, razão pela qual o narrador hesita em reagir).

O livro instiga, e flui surpreendentemente rápido, à medida que vamos acompanhando e tentando, junto com o narrador, entender Bartleby. É um personagem único, ousado, que quebra conceitos e destrói certezas, fazendo repensar valores, tudo isso sem dizer praticamente nada, afinal, ele prefere não dizer!

Além de todo este enredo intrincado e surpreendente, o livro tem ainda uma acentuada carga de humor negro, pois de tão absurda e fantástica, a situação chega a parecer uma brincadeira, uma situação cômica. Mas se desenha igualmente com ares de tragédia, numa interessante mistura de sensações.

Outro detalhe que também me chamou muito a atenção foi o fato de a história, ambientada no século XIX, nos fazer imaginar como é a rotina de um escritório de advocacia nesse período. Não há muitos elementos que façam essa descrição, então ficamos apenas com nossa imaginação, pensando como seria a rotina e disposição do lugar, provavelmente ainda à luz de velas. Acabamos involuntariamente tentados a encaixar o escritório nos tempos atuais, dada a proporção e atemporalidade da história, mas não podemos nos esquecer de que ela já tem mais de 150 anos. Contudo, segue constante, atemporal, como um clássico, que sobrevive às novas eras e gerações.

Enfim, uma leitura deliciosa, intrigante, reveladora, a cada página. Não deixem de ler! A L&PM Editores tem essa ótima edição, por R$8,00, se não me engano.
Bom, procurei dar um rápido panorama desta breve e fascinante história. Um último comentário: a história de Bartleby, é, no fundo, a história de todos nós. Essa percepção é incrível!

E querem saber? Prefiro não dizer mais nada!


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Teatro e dança: As Três Irmãs


OBS: Fotos de divulgação do espetáculo, retiradas do Google (exceto as duas referidas).


Já estava previsto fazer esse post há pelo menos uns três meses, época em que ele 'aconteceu', mas somente agora pude enfim terminá-lo. Não sei se o espetáculo ainda está sendo apresentado...

Desde que assisti à peça A Galinha Degolada, ganhei grande interesse por teatro, por várias razões, entre elas a tênue linha que há entre ele e a literatura, como mencionei na postagem sobre a peça, bem aqui.

Alguns dias passados dali, voltei ao SESC Iracema, aqui em Fortaleza, e deparei-me com um anúncio de outra peça: As Três Irmãs. A apresentação seria na semana seguinte. A princípio, imaginei ser uma adaptação da obra homônima, um clássico do escritor e dramaturgo russo Anton Tchékov, o qual muito admiro. Pensei, de cara, que seria algo parecido com o que vi na adaptação do conto de Horácio Quiroga, naquele outro dia. Fiquei bastante entusiasmado, até perceber, pelo cartaz, que não se trataria de uma encenação tradicional, mas de um espetáculo de dança, realizado pela Paralelo Cia de Dança. Contudo, ainda não muito familiarizado às estruturas teatrais, imaginei que haveria alguma narrativa, talvez contando uma parte da história ou algo parecido. Pelo sim, pelo não, resolvi procurar a peça para ler antes de assistir à apresentação.



Graças ao Google, não foi nada difícil achá-la, e naquele mesmo dia comecei a ler. Não era um texto rápido, como eu já desconfiava. A peça era composta por quatro atos, que juntos totalizavam 54 páginas. Ávido para ter logo uma visão geral da história, antes de assistir à adaptação teatral, dediquei um bom tempo dos dias seguintes a essas páginas.

Já no primeiro ato, percebi a força dessa obra. Personagens densos, ambientação precisa, grande carga filosófica e psicológica. Tudo se mesclava em diálogos intensos, formando uma atmosfera que prendia facilmente.
A trama desta que é uma das mais célebres peças de Tchékhov gira em torno de três irmãs, como diz o título. São elas Irina, Olga e Macha. As três vivem há anos em uma província russa, mas, desacreditadas da vida (exceto Irina, a mais nova), levam uma rotina monótona, e acreditam que voltar a Moscou, cidade onde passaram a infância, seja sua única esperança. Entre os demais personagens, estão ainda Andrei, irmão das três, vários militares e outros de apoio. Mas depois voltarei a falar da obra original.

Bem que me esforcei, mas não consegui ler tudo antes do dia da encenação. Li três atos, suficientes para já ter uma boa noção da trama. Imaginei ser mais do que o suficiente, uma vez que sequer tinha a certeza de que seria mesmo uma adaptação, o que, portanto, tornaria essa leitura não tão importante. Quando voltei ao SESC, no dia marcado, vi várias fotos de divulgação da peça, próximo à bilheteria. Por elas, pude ver, agora claramente, que se tratava mesmo de um espetáculo exclusivamente de dança. Três moças em poses de bailarinas. Não parecia haver mais nenhum personagem em cena e, pelas fotos, o cenário se resumia a um sofá.




Confesso que a princípio fiquei um pouco receoso, e até ligeiramente desanimado ao perceber que seria mesmo algo bem diferente do que eu tinha imaginado. Porém, pensei por alguns instantes. Seria uma oportunidade de ver algo novo, ainda desconhecido para mim. Um espetáculo que priorizaria o movimento e sua fluidez de uma maneira única. A Paralelo Cia de Dança ia apresentar um espetáculo inspirado na obra de Tchékhov, que não necessariamente buscava estabelecer um elo entre a literatura e a dança. Foi com estes pensamentos que comprei o ingresso e tomei um lugar à plateia.

No centro do palco havia um sofá, sobre o qual jazia um ursinho de pelúcia. Próximo do móvel, pendendo do teto, preso a algo que parecia um cabo, estava um buquê de rosas. Todos eles, sofá, ursinho e buquê, seriam peças importantes no desenrolar do espetáculo. Eis que surgem então as três atrizes. As três irmãs. Irina, Olga e Macha, e começam a executar suas coreografias.





Durante toda a apresentação, que durou cerca de 50 minutos, observei com grande fascínio todas aquelas evoluções. A coreografia tinha muita suavidade e leveza, sendo conduzida por uma música envolvente, com altos e baixos, em um ritmo e sintonia extaseantes. As três atrizes ora interagiam juntas, ora se afastavam, independentes, ficando quase isoladas uma da outra, usando toda a extensão do palco. Era como se cada uma estivesse em seu próprio mundo, vivendo as angústias e aflições de suas personagens. Na plateia, nesses momentos, tínhamos que alterar olhares entre as três, e mesmo assim, em certas horas, quase não conseguíamos acompanhá-las.

Uma coisa que também me chamou muito a atenção, assim como em A Galinha Degolada, foi a iluminação. O intenso jogo de luzes que se alternava de instante em instante, dando a cada movimento uma atmosfera única, uma emoção mais condizente, crível. Não foi à toa que vários fotógrafos circulavam em volta do palco, em busca dos melhores ângulos para suas fotos.





As arquibancadas que formavam a plateia estavam bem movimentadas, talvez não lotadas, mas pude perceber um público bastante interessado. Para mim, ainda pouco habituado a esse ambiente teatral, como já disse, tudo era novidade. Não pude deixar de notar como um espetáculo como aquele tinha seu toque peculiar e atrativo. Era surpreendente ver o que se podia obter com o fato de não haver qualquer diálogo, de toda a comunicação ser feita, expressada, somente através daqueles movimentos tão precisos, tão cuidadosamente coreografados e ensaiados. Inclusive, a atriz Joyce Barbosa, que interpreta Macha, é responsável também pela coreografia, figurino e direção artística. Ótimo trabalho!

Falando um pouco de simbolismos, de maneira bem livre e pessoal, o sofá, a meu ver, representava a estagnação, a prostração à qual as três se submeteram, a incapacidade de reverter a situação, que no texto da peça é retratado pela desesperança, que habita amargamente o coração delas. O ursinho talvez representasse um mínimo de alegria encontrado por elas naquela vida tão melancólica e sem sentido. O buquê, que começa pendendo do alto, de certa forma inatingível, seria o símbolo da esperança, tão almejada e perseguida pelas três. Em certos momentos, elas o jogam ao chão, como que incertas de suas decisões.



Quando as luzes se acenderam, toda a plateia prorrompeu em aplausos. Comecei a refletir algumas dessas sensações, enquanto olhava as três atrizes no palco, que agradeciam a ovação. Elas avisaram que fariam ainda um breve momento de conversa com o público, onde explicariam em termos como foi o processo de criação do espetáculo. Porém, boa parte dos presentes se levantou quase incontinente, deixando as dependências da sala. Os que permaneceram, puderam ouvir detalhes dos bastidores da produção, da concepção da ideia à montagem do espetáculo. Se não me engano, a produtora também subiu ao palco, onde foram feitos também comentários sobre a obra original, de Tchékhov, e os pontos e singularidades escolhidos para servir como base da coreografia por elas criadas.

A plateia, ou o que sobrou dela, fez ainda algumas perguntas, que exploraram mais alguns pontos interessantes deste belo espetáculo. Aproveitei esses instantes finais para registrar, na medida do possível, o momento, através da câmera de meu celular. Seguem as duas imagens abaixo:








Nos dias seguintes, após a apresentação, terminei a leitura da peça, com grande entusiasmo. Como falei no início desse texto, esta obra de Tchékhov é impregnada de questionamentos filosóficos. As três irmãs, atormentadas pelas desventuras de sua rotinas, perguntam-se a todo o instante qual seria o sentido da vida, se é que há um. Repensam atos, ações, sentimentos. Discutem esses assuntos com os demais personagens, que também demonstram um viés filosófico. Por que vivemos? Por que sofremos? Será que tudo isso é em vão? Sendo assim, tanto faz o que fizermos da vida? Tais pensamentos, levantados em extensos e complexos diálogos, nos faz repensar conceitos e até mesmo nossa própria vida, de uma maneira arrebatadoramente profunda. Cheguei a fazer breves pausas entre um diálogo e outro para refletir melhor aquilo, e até marquei as passagens mais marcantes (assunto para um outro post, talvez?) Para mim, As Três Irmãs é, sobretudo, uma história de esperança, de uma busca por dentro de sim mesmo, uma vez que mostra os personagens exatamente como eles são. Não há grandes desenlaces ou conflitos dramáticos, propositalmente. Tchékhov, como é comum em suas obras, prefere retardar essa ação em prol do desenvolvimento psicológico de seus personagens. Isso é significativamente notado na rotina das três irmãs, com suas desesperanças e ideologias tão convincentes e intensas.

A Paralelo Cia de Dança conseguiu transmitir muito bem essa sensação de melancolia, apresentando poucos elementos em cena, priorizando ação e gestos automáticos, quase motores, refletindo a angústia de cada personagem, a inquietação de suas mentes, incapazes de reagir, de se erguer. Seu único ideal de esperança é a volta a Moscou. Será mesmo que esse é o único caminho?

E pensar que eu quase desisti de assistir! Foi uma das experiências mais bacanas que passei ultimamente, pois me despertou para muitas coisas as quais ainda não conhecia, como a dança e essa incrível peça de Anton Tchékhov!

Parabéns às três atrizes e a toda a equipe que participou desse espetáculo!

Ah, mas agora não posso esconder o desejo de assistir também a uma encenação tradicional da peça, que é uma das mais representadas no mundo cênico!

Bom, vou parando por aqui! Para finalizar, vejam mais detalhes sobre a Paralelo Cia de Dança no site oficial do grupo. E, claro, leiam a obra As Três Irmãs aqui!


domingo, 18 de setembro de 2011

Pizza de Liquidificador


Fotos: Diego e Denis Akel

Cozinhar sempre foi uma arte que me chamou muito a atenção, embora ainda nunca tivesse me aventurado propriamente por ela. Quando pequeno, gostava de acompanhar minha mãe na cozinha. Não entendia bem algumas coisas, mas adorava ver como pratos tão saborosos brotavam de ingredientes aparentemente tão simples e comuns.

Com o passar do tempo, e surgimento de outros interesses, nós acabamos desviados muitas vezes na vida, ou simplesmente adiando tal coisa para um futuro incerto. Bom, prefiro acreditar que tudo tem o seu tempo certo para acontecer, como já disse aqui em textos anteriores.

Minha sede de cozinhar e começar a explorar o mundo culinário começou recentemente, quando vi numa livraria esse simpático livrinho que estampa esta postagem, da ótima L&PM Editores, uma editora que muito admiro. Além da capa, que de cara já achei interessante, comecei a folheá-lo por curiosidade, e fui percebendo sua abordagem rápida, direta e funcional, principalmente por se referir a receitas feitas usando-se o liquidificador como base. Naquele mesmo instante, decidi que seria uma ótima oportunidade de iniciar esse caminho.

As receitas do livrinho assinado pelo Anonymus Gourmet, além de tudo, são bastante variadas, indo de lanches rápidos a receitas completas para almoço e jantar, e até sobremesas. De imediato, uma das receitas que mais chamou minha atenção foi a pizza de liquidificador, e foi justamente por ela que resolvi começar. Poucos dias depois, comprei os ingredientes. Numa noite de domingo, comecei o procedimento.




À medida que fui trabalhando os ingredientes, com a supervisão de minha mãe (caso algo desse errado!), fui percebendo como é mesmo um ritual quase mágico o de se preparar algo na cozinha, a transformação pela qual os alimentos vão passando, de pouco em pouco, até se chegar ao resultado esperado. A massa da pizza, por exemplo, precisa de leite, ovos, óleo, sal, açúcar, farinha de trigo e fermento, tudo em porções controladas, que em qualquer variação de quantidade alteram significativamente as características da massa. Ou seja, é preciso que tudo esteja em harmonia para um resultado positivo.

Munido do livrinho, fui desenrolando a receita, ainda bastante na inocência do passo a passo. Pensei em fazer algumas modificações e colocar outras coisas, mas como ainda era a primeira vez, acreditei ser melhor seguir o roteiro. Numa próxima vez eu poderia experimentar mais à vontade.

Estando a massa pronta, levei-a ao forno, onde assaria por alguns minutos. É muito bacana também acompanhar o andamento da massa pelo vidro do fogão. Durante esse tempo, de livrinho na mão, fui fazer a cobertura da pizza, que leva cebola e sardinha, banhadas por molho de tomate, tudo em uma frigideira. Foi mais uma etapa interessante, observar a fusão desses ingredientes, o crepitar da chama, e o espesso molho que começou a se formar quando misturei tudo. Era engraçado como o refogado se parecia muito com um molho bolonhesa (o que deixou a pizza com uma certa cara de lasanha!). Ao final, acrescentei esta mistura à massa, despejando de maneira uniforme.




Que sensação boa aquela, ao ver o prato pronto, ali na minha frente. E melhor, sem ser pedido de nenhum restaurante. Cozinhar em casa tem essa gigantesca vantagem. É como se nos afeiçoássemos ao prato durante seu preparo, cuidando dele com toda a atenção, o que eleva significativamente sua importância – o oposto dos pratos que pedimos ou compramos prontos, cujo único trabalho que nos comete é comer. Minha pizza talvez não tivesse exatamente cara de pizza, por ter sido feita num refratário retangular (era o que dizia a receita!), mas o sabor estava ótimo! Bastante suave, massa consistente, com a cebola acrescentando um toque sutil, mas que fazia o diferencial. Então foi só me deliciar, juntamente com o pessoal aqui de casa, com essa ótima e prática receita, que além do sabor que sentíamos no paladar, tinha um sabor de conquista pessoal, se é que me entendem!

Claro que eu não poderia finalizar sem passar a receita completa, não é mesmo? Lá vai ela, tal qual no livro:




PIZZA DE LIQUIDIFICADOR - Anonymus GOURMET

Ingredientes:

½ xícaras de leite;
2 ovos;
½ xícara de óleo;
1 pitada de sal;
1 pitada de açúcar;
3 xícaras de farinha de trigo;
1 colher (sopa) de fermento químico;
1 copo de molho de tomate;
2 latas pequenas de sardinha em óleo;
1 cebola;
100g de queijo ralado.

Obs:. Quando fiz esta receita, usei queijo mussarela, cortando pedaços de fatias com as mãos. Foi mais ou menos 100g, mas muita gente acha essa quantidade pouca, então fica ao gosto de cada um!

Preparo:

1 – NO LIQUIDIFICADOR: comece pela massa. Bata o leite, os ovos, o óleo, o sal, açúcar, farinha de trigo e o fermento.

2 – Unte com óleo (pode ser o da sardinha mesmo) uma forma retangular pequena e arrume a massa ali dentro. Espalhe bem e leve ao forno preaquecido por, em média, 25 minutos. A massa ficará assada.

3 – Numa frigideira com óleo (também pode ser o da sardinha), frite a cebola e junte a sardinha, sem o óleo, previamente esmagada com a ajuda de um garfo. Mexa e acrescente, aos poucos, o molho de tomate. Misture e arrume o refogado em cima da massa assada. Finalize com o queijo ralado e leve ao forno novamente para derretê-lo.


Ah, o manjericão foi um extra por nossa conta!

Bom, vou continuar com minhas experimentações na cozinha, testando mais receitas e fazendo novas descobertas. Cozinhar é, além de tudo, uma ótima terapia, que nos distrai e nos motiva, além de ser extremamente prazerosa. Acho que um bom comparativo, falando livremente, seria comparar um prato vazio a uma tela por pintar, ou a páginas em branco, que estão à espera do artista, que irá transformá-las, com seu toque pessoal, em algo único. É como dizem, vivendo e aprendendo!




P.S (07.03.2012): Uma bela novidade: este post foi escolhido para figurar no site oficial do Anonymus Gourmet, vejam como ficou clicando aqui!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

II Feira do Livro Infantil de Fortaleza



E começou hoje, aqui em Fortaleza, a II Feira do Livro Infantil, evento que traz uma vasta programação cultural, inteiramente gratuita! Entre os destaques da feira, está o cantor, compositor e escritor Vitor Ramil, que faz o show de abertura, hoje às 18 horas.

Destaque também para a presença do prestigiado escritor e autor de novelas Walcyr Carrasco, no sábado, dia 17. Walcyr conversará com o público e terá ainda sessão de autógrafos. Outros destaques são os contadores de histórias Ilan Brenman e Rosana Mont'alverne e a escritora gaúcha Marô Barbieri. Também engrandecem o eventos autores cearenses, como Izaura Franco e Ignácio Loiola. 

Além da tenda principal, há também vários estandes de grandes editoras, como a Paulinas e a Editora Moderna, com novidades e lançamentos, em um espaço compacto e atrativo.

A Feira do Livro Infantil é uma ótima iniciativa, que valoriza o papel do contador de histórias, figura tão importante, que tanto pode fazer pelas crianças, e, porque não, por todos nós. Afinal, quem não gosta de ouvir histórias, não é? Elas nos fazem sonhar, nos libertam.

Bom, o evento vai de hoje, 14, até sábado, 17, na Praça do Ferreira! 
Mais detalhes e programação completa no site oficial do evento.

domingo, 11 de setembro de 2011

Referência: 8-bit trip



Para mim, e acredito que também para muitos, Lego é muito mais que um simples brinquedo. Desde pequeno, quando tive o primeiro contato com ele, percebi o incrível potencial dessa ferramenta. Além dos modelos padrões que se podiam montar, era sempre possível soltar a imaginação e criar praticamente tudo usando as peças certas. Lembro de eu e meu irmão ficarmos horas e horas montando as mais loucas e malucas concepções que podíamos, sempre variando e explorando as peças que tínhamos, depois de já montadas exaustivamente as estruturas padrão do Lego Polícia e Lego Bombeiro, destaques da época. Era mais que um brinquedo, sem dúvida. Creio que o Lego, de alguma maneira, nos ajudou bastante a desenvolver a criatividade.

Hoje em dia, o Lego, mesmo dividindo espaço com essa enxurrada de jogos eletrônicos, continua forte, com inúmeras novas versões, centenas de novas peças (quase nem reconheço algumas variações) mas dá para notar que a essência está mantida. Além de tudo, Lego também virou matéria-prima para arte, e é até bem comum vermos modelos impressionantes de coisas do cotiadiano feitas com os bloquinhos. Dentro da área de animação, é comum também vermos trabalhos em stop-motion usando Lego. Os resultados são bem interessantes, dado o efeito simples mas impactante que os tijolinhos animados podem representar.

Nesse prisma, o curta que mostro nessa postagem é sem dúvida dos melhores e mais surpreendentes a usar o Lego como base. Vejam (em HD de preferência!):




O trabalho é de autoria dos suecos Tomas Redigh e Daniel Larsson, que executaram uma obra de incríveis proporções, combinando o Lego à tradicional e clássica atmosfera de jogos 8-bit, como Pacman e Pong. Para esta grandiosa homenagem, eles usaram vários truques de câmera, mesa, iluminação e muitos, muitos blocos de Lego. A trilha sonora também merece destaque, criando facilmente o ritmo perfeito, que tem tudo a ver com a concepção e andamento das cenas.

Algumas cenas são realmente surpreendentes, como o cubo girando no "load" ou a partida de Pong. A técnica da rotoscopia, que consiste na utilização de imagens reais, sobre as quais são orientados os frames a serem animados, a fim de ser obter uma animação fluida e suave, é usada nos trechos onde podemos ver as silhuetas de ambos os autores colocando cartuchos ou jogando. É um efeito realmente muito interessante.

Palmas aos dois, por fazer esta belíssima combinação de material e de talento!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Livro: De Gênio e Louco todo mundo tem um pouco


Fotos: Diego Akel

Já ouço falar no nome de Augusto Cury há tempos, embora nunca tivesse lido nenhuma de suas obras. Até então, tudo o que sabia, a grosso modo, é que era um autor de livros de grande sucesso, com não sei quantos milhões de vendas. Livros que pareciam ter um certo estilo de auto-ajuda. Foi ainda com algumas dessas ideias que ganhei o livro que ilustra essa postagem de uma amiga.

Claro que também já conhecia o difundido O Vendedor de Sonhos, título que sempre me intrigava bastante (como é possível alguém vender sonhos?), mas apenas por ouvir falar, nunca chegara a folheá-lo propriamente. Quando me vi diante de De Gênio e Louco todo mundo tem um pouco, percebi que a saga era mais vasta do que podia imaginar, composta de vários livros. Bom, eu já estava praticamente decidido a embarcar em outro livro (O exército de um homem só, de Moacyr Scliar), quando o livro de Cury chegou às minhas mãos, como um convite a um território desconhecido. Assim, e também para me integrar logo ao presente recebido, resolvi então me aventurar logo por suas páginas.

Devo ter passado quase 4 meses e meio a bordo desta obra (sim, costumo ler sem muita pressa, assimilando bem e marcando as passagens interessantes do texto, isso, aliás, é um bom tema para uma postagem futura), e ao final fiquei bastante surpreso com sua essência.

A trama-chave do livro fala sobre desigualdade social, expressada vivamente na vida dos personagens centrais. Fiquei bastante curioso à medida que acompanhava o desenlace dos capítulos, que iam aos poucos moldando e explicando o caráter de cada um. Os protagonistas da obra, Bartolomeu e Barnabé, apelidados convenientemente de Boquinha e Prefeito, têm histórias distintas, mas que quase se entrelaçam pelas semelhanças. É tocante e de certa forma angustiante ver os inúmeros percalços e infortúnios pelos quais esses dois passaram na vida, desde a infância. Mas mesmo com tantas provoções, ambos seguiram levando sua vida com um sorriso no rosto. Eram constantemente forçados a reiventar suas realidades.

É divertido acompanhar o desempenho de Boquinha, que se acha um grande filósofo, com uma desmedida compulsão por falar, mas se mete nas confusões mais improváveis, por conta de sua língua afiada. Já o Prefeito foi assim apelidado por sua mania de se achar político. Volta e meia, faz discursos, pede votos, seja qual for a situação. Tanto Boquinha como o Prefeito são gênios e loucos, literalmente. Altamente criativos e visionários, mas completamente desmedidos e desorientados. Parecem viver em outro mundo. A vida de ambos muda drasticamente quando se vêem diante do Vendedor de Sonhos, uma figura misteriosa que os convoca a tentar mudar uma realidade da qual eles próprios foram vítimas.

Uma ideia bacana do livro é a de que todos se esforçam para serem normais, mas não seria a dita normalidade uma grande loucura? Então, os loucos é que seriam os normais? Por isso a barreira entre a genialidade e a loucura se mostra tão tênue, podendo serem aplicadas a qualquer um. Recheado ainda com várias referências a grandes pensadores e cientistas, como Einstein, que é considerado, nas palavras do livro, o modelo ideal de intelectual, meio músico, meio palhaço, meio "louco".

Tal como é a reviravolta na vida dos personagens, é o clima do livro, ora mergulhado em grande tristeza e depressão, ora abraçado por alegria e espontaneidade. Bem dosados, estes ingredientes moldaram um romance bastante sólido que equilibra muito bem filosofia, sociologia e psicologia. E sendo Cury também psiquiatra e psicoterapeuta, em alguns momentos parece quase que estamos recebendo uma consulta instantânea.

Um detalhe de que gostei bastante foi o uso de uma linguagem fácil e acessível, que prefere períodos curtos e simples, mas efetivamente incisivos. A narrativa toda é bastante direta, sem floreios. Há também bem pouca descrição, o que nos faz buscar uma imagem mais geral dos fatos, e de certa forma aproxima o livro da realidade – essa realidade tão desigual que ele repudia e tenta nos incitar a fazer o mesmo.

Após ler este livro, além do fecundo ideal por ele transmitido, fiquei com grande vontade de conhecer os demais exemplares da saga O Vendedor de Sonhos; uma saga que consegue cativar facilmente, que mostra um caminho o qual talvez não conseguíssemos ver, mas que está ficando cada vez mais nítido. Quem ainda nada conhece da obra de Cury, pode ficar certo de que vale muito a pena passar um tempinho viajando nesse divertido e contundente romance que é De Gênio e Louco todo mundo tem um pouco.

Ah, antes de finalizar, quero transcrever aqui talvez o trecho mais marcante de todo livro, que reflete praticamente toda a sua essência. Trata-se de uma musiquinha, o lema de Boquinha e Prefeito, que eles cantavam sempre que podiam e que fascinava tantos e incomodava muitos:

Você acorda, levanta, reclama e faz tudo igual
Luta para ser aceito, notado e sair no jornal
Corre atrás do vento como uma máquina imortal
Morre sem curtir a vida e jura ser uma pessoa normal

Olha para mim e me diz com ironia social
Eis aí um maluco, um sujeito anormal
Sim, mas não vivo como você, em liberdade condicional
Sou o que sou, uma mente livre, um louco genial



Se um dia tiverem a chance, leiam!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

2 anos de Diálogos Visuais - Antigas postagens


Ilustração: Diego Akel

Bom, a modelo do que fiz quando o blog completou 1 ano (uma postagem resgatando o que de mais interessante eu havia postado aqui até então), resolvi repetir agora, no segundo aniversário.

A ideia é trazer à tona novamente postagens antigas, já implacavelmente rebaixadas pela estrutura do blog, reduzidas aos marcadores, à curiosidade dos mais interessados. Desse modo, é como dar a elas um fôlego extra, um retorno aos holofotes.

As postagens que compõe esta seleção foram feitas após o blog completar 1 ano. Vamos a elas!


Em produção: Círculo - (postado em 8 de setembro de 2010):
Curta animado de autoria de meu irmão, Diego Akel, em produção desde 2007. Já passou por diversas concepções, e deve finalmente ser terminado até o final de 2011.

Círculo - trailer antigo - (postado em 20 de setembro de 2010)
Trailer que mostra um pouco da proposta inicial do "Círculo".

Doug Funnie, um clássico dos anos 90 - (postado em 23 de setembro de 2010)
Um desenho animado que marcou a infância de muita gente, de uma maneira que decididamente não se faz mais hoje em dia. Sobretudo, um desenho animado inteligente.

– Fábulas de Esopo [A Cigarra e a Formiga], [A Raposa e o Espantalho], [O Homem que Prometia o Impossível], [A Galinha dos Ovos de Ouro] [A Raposa e o Bode] - (postadas em 6 de outubro, 3 de novembro e 17 de dezembro de 2010 |  17 de março de 2011 e 15 de junho de 2011)
Algumas fábulas do lendário Esopo. Histórias que atravessaram os séculos e permanecem profundamente discutíveis. Venho postando versões que compõe uma antologia da L&PM Editores.

O Ladrão e os Cães - Frases, sentenças e citações... - (postado em 15 de outubro de 2010)
Trechos interessantes e emblemáticos do livro O Ladrão e os Cães, um ótimo romance egípcio, com ares de história policial.

II Semana da Animação - Vinheta! - (postado em 26 de outubro de 2010)
A vinheta criada por meu irmão para este evento, que ocorre anualmente aqui na cidade.

Vinheta para Mostra SESC Cariri de Cultura 2010 - (postado em 11 de novembro de 2010)
Vinheta criada por Diego para o evento em questão. Mistura cores e fusões, bem ao estilo que ele adora animar.

Dica de leitura: O Pequeno Príncipe - (postado em 19 de novembro de 2010)
Um dos melhores livros que li ultimamente. Todos deveriam lê-lo – e compreendê-lo. Uma visão geral do livro, sem entregar muito, além de imagens das aquarelas.

Game: GoldenEye 007 - (postado em 16 de janeiro de 2011)
A versão para N64 é um de meus jogos favoritos. Em virtude do lançamento da versão de Wii, falei um pouco sobre minhas impressões.

Dica de leitura: O Homem que Sabia Javanês (conto) - (postado em 26 de janeiro de 2011)
Um conto singular, de gigantesco impacto, sobre um homem que afirma ser fluente em javanês, mas na verdade não sabe praticamente nada do idioma.

Moacir C. Lopes - (postado em 5 de fevereiro de 2011)
O romancista esteve aqui na Bienal do Livro 2010, e fez uma excelente palestra sobre a estrutura do gênero romance, expondo sua obra. Troquei algumas palavras com ele. Veio a falecer em novembro de 2010. A postagem é minha singela homenagem.

Filme: O Pequeno Príncipe (postado em 13 de fevereiro de 2011)
Competente e surpreendente adaptação do clássico de Exupéry. Um filme mágico, que pode cativar tanto quanto o livro.

Moacyr Scliar... (postado em 1º de março de 2011)
A notícia do falecimento de Scliar me pegou de surpresa. O escritor vinha se recuperando de consequências de uma cirurgia no hospital, O cenário literário no país parou. Ninguém queria acreditar. Eu queria tanto tê-lo conhecido... esta postagem homenageia este escritor que tanto me influenciou.

O poder do abraço (postado em 29 de março de 2011)
Um simples abraço pode fazer muito mais do que imaginamos. Pode curar, pode transformar, pode salvar. Comentei aqui sobre um texto bacana que enfoca esse tema.

Dica de leitura: O pastor (postado em 5 de abril de 2011)
Esta breve história de Frederick Forsyth nos introduz de maneira natural um pouco do mundo da aviação, com grande sutileza de detalhes. Tudo é um pano de fundo para uma ótima trama de suspense, que nos coloca sem esforços na cabine do piloto.

Manoel de Barros - Poesia animada (postado em 5 de maio de 2011)
Um curta animado simples, intuitivo e profundo, bem como a poesia do mestre Manoel de Barros, que engrandece significativamente a obra.

Peça/Conto - A Galinha Degolada (postado em 26 de maio de 2011)
Fui ao teatro assistir a essa peça, e fiquei maravilhado com o que vi. Em seguida, li o conto. Na postagem, falo um pouco sobre o espetáculo, além do texto do escritor Horácio Quiroga.

Shakespeare animado (II): Hamlet (postado em 7 de julho de 2011)
Segunda postagem desta série. Um curta primoroso, sob todos os aspectos, que reconta a clássica tragédia shakesperiana. Aproveito ainda para comentar um pouco sobre Hamlet.

Programa de TV: Entrelinhas (postado em 14 de julho de 2011)
Um programa da TV Cultura totalmente dedicado à literatura. Dinâmico, curioso e revelador, salva facilmente a programação de domingo da TV aberta.

O provável do improvável (postado em 17 de julho de 2011)
Finalmente entra no ar meu novo blog, onde coloco meus contos, crônicas, e outros textos autorais.

Eatliz - Lose this Child (postado em 21 de julho de 2011)
Espetacular curta animado em stop-motion, feito com areia, para promover o novo álbum da banda israelense Eatliz. Um dos trabalhos mais impressionantes que já vi.

FLIP 2011 - Breves considerações (postado em 31 de julho de 2011)
A Festa Literária Internacional de Paraty repercutiu bastante no início de julho. Falei aqui brevemente sobre o que me chamou atenção no evento, que assisti graças à transmissão online.

EAT, MOVE, LEARN (postado em 8 de agosto de 2011)
Três vídeos muito bem executados, que falam por si só.


Bom, é isso, essa é uma pequena retrospectiva selecionada do blog, de agosto passado até agosto presente. É engraçado para mim rever esse material, é quase como voltar no tempo, principalmente as mais antigas. Eis aí uma ótimo ponto positivo que os blogs nos trazem: imortalizar momentos!

E para quem quiser dar uma olhada, a outra postagem semelhante a essa, que reúne as principais do primeiro ano, pode ser vista nesse link:

1 ano de Diálogos Visuais - Antigas postagens